Quase duas décadas depois, o motorista afirma se identificar mais com a direita. “Os políticos não podem só proferir que vieram da periferia, têm que mostrar uma vez que melhoraram de vida”, diz ele, que votou no candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal.Identitarismo divide a esquerdaO sociólogo Jessé Souza, responsável do livro recém-lançado “O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”, acredita que a resguardo das pautas ditas “identitárias”, defendidas pela esquerda, deve ser repensada. Para Souza, elas foram criadas para fomentar divisões. “A extrema-direita se aproveita disso”, diz. Heloísa, da UFMG, também afirma que é preciso “trespassar do lugar da repartição”. “Todos esses movimentos são importantes porque estão no campo dos direitos.” Mas a forma de comunicar-se ficou marcada uma vez que um tema de comportamento, ou costumes, e não uma vez que um tema que fortalece a democracia. Mais ainda, a tarifa alcança um público de classe média e subida, e não conversa com o sufragista de baixa renda.A investigador política da PUC-SP Deysi Cioccari aponta que a esquerda tem dificuldades para dialogar com as classes C, D e E. “O campo perdeu a conexão com esse eleitorado”, diz. Trata-se de um sufragista que quer melhorar financeiramente e romper com sua requisito de baixa renda. O candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, reconheceu em uma sabatina que a esquerda deixou de dialogar com grupos que desejam prosperar individualmente — e que, na exiguidade desse diálogo, a extrema-direita avançou.No diagnóstico de Deysi, a subida social se tornou um caminho burocrático na esquerda. “A economia tem que crescer para as pessoas melhorarem a requisito social. Mas a população entendeu que não vai prosperar trabalhando das 8h às 18h”, diz. “O empreendedorismo hoje é um oração que soa estranho na boca da esquerda”.A falta de conexão com as bases e a desilusão do eleitorado também foram agravadas com as crises protagonizadas pelo PT desde 2015. “Tivemos o Mensalão, a Lava Jato, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que representou uma quebra na estrutura democrática”, pondera Deysi. “Isso provocou uma sensação de cansaço muito grande, as pessoas não querem se envolver, o que gerou o fenômeno de criminalização da política”, diz.
Créditos
Posted inCaruaru e Região