O mergulho no passado içará das profundezas a memória de 64. Com apoio empresarial e da classe média, o golpe deu uma paulada na ilusão revolucionária da esquerda. O fascismo verde-oliva sobreviveu às passeatas pacíficas. Triturou nos porões a resistência armada. De repente, sugiu Lula no ABC. Crítico do “milagre” militar, mudou a agenda da esquerda.De costas para estudantada bem-nascida e para a intelectualidade onírica, Lula deu aulas de pragmatismo. À sua maneira, jogou o jogo de um capitalismo que ideólogos pequeno-burgueses desprezavam. Interessava-lhe o interesse real dos trabalhadores, não a ideologia. Era como se Lula, antevendo o futuro, introduzisse o operariado no mundo pós-liberal que já se prenunciava na década de 70. Nessa época, Lula incluiu na sua pauta o desejo dos humanos que o rodeavam, os operários. Quanto mais desprezava os pretensos operadores e pensadores de esquerda, mais era admirado por eles.Lula atraiu para a porta de fábrica as atenções do regime militar e dos cérebros da esquerda. A proeminência sindical rendeu-lhe a ascendência política. Chegou a ensaiar uma parceria com Fernando Henrique Cardoso. Por mal dos pecados, dividiram-se. Um foi fundar o PT. Outro, mais tarde, o PSDB.No alvorecer da redemocratização, a derrota para Fernando Collor desenvolveu em Lula um complexo social. O rico derrotou o representante da maioria pobre. As duas derrotas para FHC, no primeiro turno, plantaram na alma do operário um complexo intelectual. A USP prevaleceu sobre o chão de fábrica da Volks e da GM.Numa época em que a direita tradicional entrou em declínio, com o malufismo em São Paulo e o carlismo de ACM na Bahia, a esquerda petista recusou-se a dialogar com a centro-esquerda tucana. Lula tratou FHC como inimigo. Sonegou apoio até ao Plano Real. A USP foi como que empurrada para o colo do cangaço político.
Créditos
Posted inCaruaru e Região