Recentemente restaurado, o casarão no número 758 da av. Higienópolis, região meão de São Paulo, oferece um testemunho do culminância da fidalguia cafeeira.
O palacete, que pertenceu ao cafeicultor Carlos Leôncio, o Nhonhô Magalhães, é um retrato da opulência da economia do moca entre os séculos 19 e 20.
Veja na galeria de imagens inferior fotos internas do casarão, em detalhes:
Foi nesta quadra em que o grão se tornou o principal item de exportação do Brasil, logo alçado ao posto de maior produtor mundial –título que ostenta até hoje.
Segundo Caio Prado Jr., a prosperidade trazida pelo moca foi tão grande que fez o Brasil saber pela primeira vez o progresso da modernidade. O país começou a ter mais estradas de ferro e novos meios de informação e transportes.
A cafeicultura tornou São Paulo a grande potência econômica do país.
“O grande papel que São Paulo foi conquistando no cenário político do Brasil, até chegar à sua liderança efetiva, se fez à custa do moca; e na vanguarda deste movimento de subida, e impulsionando-o, marcham os fazendeiros e seus interesses. Quase todos os maiores fatos econômicos, sociais e políticos do Brasil, desde meados do século pretérito até o terceiro decênio do atual [século 20], se desenrolam em função da lavoura cafeeira”, escreveu Prado Jr.
Todas as grandes decisões do país naquela quadra eram influenciadas pela fidalguia cafeeira. O veste de o Brasil ter retardado tanto a anulação da escravidão é exemplo disso.
Ainda fortemente dependentes da mão de obra cativa, antes da substituição massiva pelos imigrantes, a cafeicultura foi um dos grandes freios do movimento libertador.
Na capital paulista, palacetes abrigavam as famílias dos barões –título que, segundo José Murilo de Roble, eram uma forma de cooptação dos cafeicultores pela reino brasileira, que tinha ciência de que a firmeza e a longevidade do Poderio dependiam do base político e financeiro da cafeicultura.
Mesmo com a proclamação da República, os empresários do moca mantiveram poder e riqueza ao longo das décadas.
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A história de Nhonhô Magalhães que o diga. Um dos maiores fazendeiros no início do século 20, chegou a comprar a sesmaria de Cambuí, com 605 km², quase do tamanho atual da cidade de Ribeirão Preto.
O casarão da avenida Higienópolis, construído na dez de 1930 em estilo eclético, tem cinco pavimentos, 2.463 m², piso de marchetaria, lustres de ferro fundido, vitrais belgas e até um anfiteatro com capacidade para murado de 50 pessoas sentadas.
Zero disso chegou a ser desfrutado por Nhonhô, que morreu antes da epílogo das obras.
Por falar em arquitetura e moca, você sabia que uma das últimas obras de Oscar Niemeyer inspirou a geração de um moca? Conheça na galeria de imagens inferior a capela Santa Clara, que fica dentro de uma herdade de moca. E, se quiser saber os detalhes dessa história, leia a reportagem completa cá.
Hoje, o casarão Nhonhô Magalhães é governado pelo shopping Recinto Higienópolis e é usado para eventos corporativos. Ocasionalmente, abre para visitas guiadas.
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