Investir em ETFs nos EUA: um pequeno vazamento que pode afundar seu barco - 23/09/2024 - De Grão em Grão

Investir em ETFs nos EUA: um pequeno vazamento que pode naufragar seu navio – 23/09/2024 – De Grão em Grão

Imagine que você tem uma pequena goteira no telhado de sua morada. A princípio, parece alguma coisa inofensivo, e você resolve deixar passar, pensando que um conserto agora não é necessário. Com o tempo, porém, essa goteira vai se acumulando, causando mais e mais danos, até que o dispêndio para arrumar o telhado inteiro se torna muito maior do que teria sido no início. Esse é o dilema que muitos investidores enfrentam ao escolherem ETFs americanos de grave dispêndio, sem perceber que há outros “vazamentos” financeiros ao longo do caminho.

Atraídos pelas baixas taxas de gestão dos ETFs nos EUA, muitos investidores brasileiros acabam ignorando os custos ocultos. A maioria das contas para investimentos internacionais oferecidas no Brasil dá chegada somente ao mercado americano, onde os ETFs parecem uma escolha lógica. No entanto, esses investidores esquecem que os ETFs americanos, por legislação, são do tipo distributivo. Isso significa que eles distribuem seus rendimentos periodicamente, seja na forma de dividendos ou juros, uma vez que acontece com títulos de renda fixa ou REITs.

O problema está na tributação desses rendimentos. Para nós, investidores estrangeiros, a alíquota é de 30%, o que diminui consideravelmente o retorno. Outrossim, há a premência metódico de reinvestir esses dividendos, já que, sem isso, o poder dos juros compostos perde sua eficiência. Esse reinvestimento frequente, além de ser uma tarefa que exige disciplina, traz outro dispêndio: o da corretagem.

Outro ponto crítico é o imposto sobre legado nos EUA, que pode chegar a 40% do valor investido. Esse dispêndio suplementar muitas vezes não é levado em consideração por quem procura a simplicidade e o grave dispêndio dos ETFs.

Para ilustrar, tomemos uma vez que exemplo o ETF de renda fixa SGOV, que investe em títulos de pequeno prazo do Tesouro Americano, equivalente a um “ETF de Selic americana”. Em 2024, esse ETF pagou juros mensais de murado de 0,44%, o que resultaria em 5,4% ao ano se reinvestido. Porém, em seguida o desconto do IR de 30%, o rendimento cai para 0,308% ao mês, ou 3,69% ao ano, caso o investidor não tenha disciplina de reinvestimento.Nesse cenário, uma escolha equivalente e mais eficiente seriam os mutual funds, que funcionam de forma similar aos fundos abertos no Brasil. Os fundos de Money Market, por exemplo, têm taxas de gestão em torno de 0,4% ao ano, e seus rendimentos nos últimos 12 meses superaram 5% ao ano. Ou seja, um proveito em excesso ao equivalente SGOV de mais de 1% ao ano. A grande vantagem desses fundos é que eles não distribuem rendimentos periodicamente, evitando a pesada tributação sobre dividendos e o temido imposto de legado americano.

Em resumo, muitos investidores, ao serem atraídos pela ilusão de menores taxas de gestão nos ETFs, acabam pagando um preço oculto muito mais proeminente em impostos e ineficiências. O que parecia ser um dispêndio grave se transforma em um rombo significativo nos retornos, mormente a longo prazo. É uma vez que consertar um telhado tarde demais – o que parecia uma economia no início, acaba saindo dispendioso.

Ao invés de focar somente nas taxas de gestão, é fundamental indagar o cenário completo: tributação, premência de reinvestimento e riscos sucessórios. Mutual funds, apesar de parecerem menos atraentes à primeira vista, podem oferecer um retorno líquido mais robusto e eficiente, mormente quando se considera a liberdade de não precisar mourejar com tributações periódicas ou heranças complicadas. Enfim, nos investimentos, o que importa é o retorno final no seu bolso, e não somente o que parece mais barato no primeiro olhar.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Mansão do Investidor.

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