“Como o título sugere, o filme é uma fabulação em torno das memórias de um quintal na Baixada Fluminense, mais especificamente em Queimados, onde passei parte da minha infância. Esse quintal acumula camadas de história e cultura soterradas, mas também é um espaço de culturas plantadas, misturadas com conflitos que, aos poucos, vão formando um mapa afetivo da minha família e, em certa medida, desse subúrbio do Rio de Janeiro”, contextualiza o diretor, que esteve também em outras edições da Berlinale.”A proposta do filme era construir uma representação desse quintal. Não apenas um espaço físico, mas também um lugar que existe concretamente, mas ainda mais forte na imaginação e na memória”, diz Bragança.O filme se desenvolve nesse “entrelaçamento entre o real e o imaginário”, onde o diretor mistura fotos e imagens de arquivo, além de vídeos gravados durante sua adolescência, “quando consegui minha primeira câmera de vídeo”. “Registrei momentos como o Natal em família, o futebol na rua da frente, entre outras cenas do cotidiano que foram, de certa forma, encenadas, agora com a minha própria família”, diz.Cartas do Absurdo: a voz indígena e a violência da colonizaçãoEm direção ao norte do país, mais especificamente na Amazônia, o filme Cartas do Absurdo, é inteiramente falado no idioma tupi, e se inspira em quatro cartas escritas no século XVII para refletir sobre a violência do processo colonial brasileiro e o genocídio indígena, como explica seu diretor, Gabraz Sanna: “Cartas do Absurdo é um filme que surgiu a partir de uma primeira imagem que eu capturei do Rio Amazonas, em Belém, em 2010. A partir dessa imagem, esperei mais de dez anos pelo filme que acompanha essas cenas, que podem ser vistas como o núcleo do projeto”, explica.”Cerca de um ano atrás, tive acesso a quatro cartas que foram recentemente descobertas. Essas cartas, escritas por indígenas no século XVII, falam diretamente sobre a violência e o processo de colonização do Brasil. Através delas, é possível perceber como esse processo, que começou no passado, ainda persiste, de uma maneira ou de outra, até os dias de hoje”, contextualiza o diretor, destaque também na seção Forum Expanded da Berlinale.
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