Novo canal na Lagoa dos Patos seria caro e pouco eficiente, diz estudo

Novo meio na Lagoa dos Patos seria dispendioso e pouco eficiente, diz estudo

A preâmbulo de um novo meio na Lagoa dos Patos seria uma boa solução para evitar novas enchentes uma vez que a ocorrida no Rio Grande do Sul neste ano? Desde que foi considerada, a proposta recebeu críticas de pesquisadores e ambientalistas. Passados mais de três meses do auge das cheias, uma pesquisa foi premiada ao substanciar que essa teoria é faceta, causaria danos ambientais relevantes e prejudicaria comunidades do entorno.

O estudo foi elaborado no Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Envolvente da Universidade Federalista Fluminense (UFF), em parceria com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federalista do Rio Grande do Sul (IPH-UFRGS). Com o título “Estudo de Lisura de Novo Via de Maré na Lagoa dos Patos para Redução de Cheias no Rio Guaíba, RS”, o trabalho foi premiado nos congressos II Simpósio Vernáculo de Mecânica dos Fluidos e Hidráulica (II FLUHIDROS) e XVI Encontro Vernáculo de Engenharia de Sedimentos (XVI ENES), promovidos pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro).

 Vista da lagoa dos patos no estado Rio Grande do Sul. Foto: Diuliana Leandro/UFPel/Adaptação Nasa Imagens – Diuliana Leandro/UFPel/Adaptação Nasa Imagens

O responsável por liderar o grupo, Rodrigo Querido, em entrevista à Sucursal Brasil, lembra que a teoria circulou na era entre tomadores de decisão de diferentes níveis, uma vez que se fosse uma “solução mágica”. “Seria um meio muito extenso, com uma extensão mínima de 20 quilômetros, com uma largura muito grande também e sem nenhum estudo associado, logo ninguém sabia se realmente iria funcionar”, disse.

“Acho que está muito vivo na mente de todo mundo as enchentes que ocorreram em Porto Jubiloso e no estado do Rio Grande do Sul em maio. Foi o maior evento desse tipo registrado na história”, destaca Querido. De convénio com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em julho, ao menos 876,2 milénio pessoas e 420,1 milénio domicílios foram atingidos diretamente pelas enchentes.

Com início em 26 de abril, as chuvas se intensificaram nos dias seguintes e, pouco tempo depois, nos dias 5 e 6 de maio, levaram ao maior nível do rio Guaíba: 5,33 metros. Antes, o maior nível já registrado foi 4,76 metros, durante a enxurro histórica de 1941.

Segundo o professor, o principal argumento levantado contra a construção do meio foram os impactos ambientais. “A Lagoa dos Patos tem na segmento setentrião chuva gulosice e na segmento sul chuva salgada. Com a construção do meio, a chuva da lagoa seria salinizada, e esse é um impacto ambiental importante”, explica. Para além das consequências no ecossistema, o pesquisador também ressalta os efeitos na economia lugar, já que a chuva do lago é muito utilizada na rega das plantações de arroz em torno do corpo hídrico.

Porto Jubiloso, 03/05/2024, Rio Guaíba, usina do gasômetro, em Porto Jubiloso posteriormente chuva intensa. Foto:  Gilvan Rocha/Sucursal Brasil

Entretanto, uma questão que Querido afirma ser ainda mais importante é, “se construído o meio, ele vai funcionar ou não?”. Essa é a pergunta mediano analisada pelo estudo, que conclui que o meio não seria a melhor solução. “A obra seria muito faceta e muito complexa, porque é um meio muito longo. Teria que ter proteção na ingresso, para que não assoreasse pela ação das ondas do mar, e comportas também teriam que ser construídas”, argumenta.

Para desenvolver a pesquisa, que contou ainda com participação do também professor do Departamento de Engenharia Agrícola e do Meio Envolvente da UFF, André Belém, foi utilizado modelagem computacional para simular o corpo d’chuva. Dados do rio Guaíba uma vez que batimetria, contornos, margens, vazão de chuva, maré e vento foram inseridos no programa, atestando a confiabilidade do protótipo. “Comparamos os resultados do nível de chuva medido no rio Guaíba, em Porto Jubiloso, e na desembocadura marítima da Lagoa dos Patos. Uma vez que os níveis simulados bateram com os medidos na capital, isso mostrou que os resultados do protótipo estavam coerentes”.

A partir da modelagem e da verificação entre os dados observados, a peroração do estudo foi que a obra seria extremamente complexa pela extensão do meio e consequências no envolvente, com um lucro muito pequeno. “O que obtivemos de resultado nesse estudo foi que, se o meio fosse acessível, unicamente 35 centímetros do nível da chuva seriam reduzidos, lembrando que o nível passou para mais de cinco metros”, informa Belém.

Outro cenário simulado durante a pesquisa foi a dragagem da região entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos, mas, de convénio com o professor, o resultado seria o mesmo da preâmbulo do meio. “Não resolveria o problema, mas seria uma solução mais barata que o meio”, avalia o professor.

Falta de manutenção

Para Querido, a melhor forma de mourejar com as inundações é investir no sistema já existente contra enchentes da capital gaúcha, uma vez que defendido por especialistas na era das tempestades. “O que enxergamos uma vez que solução para esse problema, e o que acho que é unanimidade no meio técnico de quem trabalha com hidráulica e hidrologia, é: Porto Jubiloso hoje já possui um sistema bastante robusto de proteção contra enchentes e alagamentos, o problema é que esse sistema não funcionou por falta de manutenção”, ressaltou.

“Esse sistema foi pensado para proteger a cidade posteriormente a enxurro de 1941, a maior da história do Rio Grande do Sul até aquele momento, só que, uma vez que não havia manutenção há décadas, as pessoas fechavam as comportas, mas as borrachas de vedação não funcionavam, depois não conseguiam furar para a chuva transpor da cidade e as bombas das estações de bombeamento não ligavam”, relembra o professor. “Foi uma questão de falta de manutenção, porque uma vez que não houve cheias parecidas, o sistema não foi posto para funcionar. Se tivesse funcionado, pesquisadores da região garantem que teria resolvido o problema e não teria tido o mesmo transtorno”, afirma Querido.

Porto Jubiloso (RS), 25/05/2024 – Aeroporto Salso Rebento (POA) continua inundado pelas enchentes que atinge o estado. Foto:  Rafa Neddermeyer/Sucursal Brasil

O aluno da UFF Daniel Maia, que participou da modelagem computacional do projeto ao lado da aluna de mestrado Roberta Reis, disse que colaborar com o estudo foi uma experiência única.

“Participar desse projeto foi uma experiência muito dissemelhante, porque modelar um corpo hídrico era uma coisa que eu ainda não tinha feito, ainda mais um corpo hídrico tão grande e com uma enxurro histórica tão significativa. Foi um lucro de conhecimento muito grande para mim”, comentou à Sucursal Brasil. “Em vez de fazer uma projeção e vender esse recurso, conseguimos atestar a partir do protótipo a viabilidade do projeto”, complementou Reis.

“Conseguir fornecer informação para a sociedade de forma mais fundamentada é o que achamos mais interessante desse trabalho”, resume Querido. “Fizemos uma vez que iniciativa própria, por inquietação e pela desinformação que estava circulando. Agora temos planos de continuar essa pesquisa e enviar uma vez que proposta para chamadas públicas de financiamento científico”.

*Estagiária sob supervisão de Vinícius Lisboa



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