Após meses de recuperação e períodos de relativa calma, as Bolsas dos EUA despencaram na sexta-feira (1°), com novos dados econômicos refletindo sinais inesperados de fraqueza no mercado de trabalho e o anúncio de novas tarifas globais feitas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, na quinta-feira (31) contra alguns dos maiores parceiros comerciais da América.
O S&P 500 encerrou o dia com queda de 1,6%, marcando uma das piores semanas do índice desde que Trump causou caos no sistema comercial global quando revelou sua primeira rodada de tarifas elevadas em abril. O índice de referência caiu 2,4% na semana.Na sexta-feira, investidores analisaram os mais recentes planos tarifários do presidente e como eles poderiam aumentar ainda mais os custos para empresas e consumidores. Mas foi um relatório do Departamento do Trabalho que causou o maior alarme.
Empregadores americanos criaram 73 mil empregos em julho, menos do que os aproximadamente 100 mil que economistas esperavam, e a taxa de desemprego aumentou ligeiramente de 4,1% para 4,2%. O relatório também revisou para baixo os dados de contratações de maio e junho em um total combinado de 258 mil postos de trabalho, sugerindo que o mercado estava sob maior pressão do que inicialmente se acreditava.
Os dados de contratação mais fracos do que o esperado, particularmente as grandes revisões para baixo de maio e junho, geraram temores sobre a força da economia sob Trump e criaram nova incerteza sobre o momento do próximo corte na taxa de juros pelo Federal Reserve.Com o mercado de ações em queda e seus críticos levantando novas questões sobre a eficácia de suas políticas econômicas, Trump tomou a medida extraordinária de questionar publicamente a veracidade dos dados de contratação.
Em uma postagem nas redes sociais na tarde de sexta-feira, ele culpou, sem evidências, a líder de estatísticas do Departamento do Trabalho, Erika McEntarfer, nomeada pela administração Biden, por produzir números falhos. A funcionária foi demitida.
A acusação de Trump, no entanto, pouco fez para acalmar as preocupações dos investidores sobre a economia, já que o mercado permaneceu em baixa durante toda a tarde.
“Este é o primeiro número ruim que realmente abre os olhos”, afirmou Mark Hackett, estrategista-chefe de mercado da Nationwide. “É um lembrete de que a volatilidade ainda existe.”Os investidores haviam sido “embalados em uma sensação de complacência” nos últimos meses enquanto as ações disparavam, acrescentou Hackett. A alta do mercado estava caminhando para uma pausa, disse ele, mas “o número do mercado de trabalho realmente muda a conversa.”
Dois dias antes, Jerome Powell, presidente do Fed, descreveu o mercado de trabalho como “sólido” ao explicar a decisão do banco central de manter as taxas de juros entre 4,25% e 4,5%.
Para Wall Street, os dados de sexta-feira lançaram novo ceticismo sobre essa avaliação.
O rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos caiu mais de 0,1 de ponto percentual, um grande movimento nesse mercado que refletiu expectativas de taxas mais baixas. (Os rendimentos se movem inversamente aos preços.) O dólar também caiu acentuadamente contra outras moedas importantes.As apostas dos traders em um corte de taxa em setembro subiram para mais de 90% na sexta-feira, acima dos aproximadamente 40% do dia anterior, de acordo com o CME FedWatch.
A administração Trump também aproveitou os fracos números de contratação para continuar pressionando Powell a cortar as taxas em breve, para estimular o crescimento econômico. Em postagem nas redes sociais, Trump afirmou que Powell deveria reduzir “substancialmente” as taxas. Se ele não o fizer, o conselho do Fed deveria “assumir o controle”, disse o republicano.
As perdas de sexta-feira foram mais acentuadas no índice Nasdaq Composite, de forte componente tecnológico, que caiu 2,2%. As ações na Ásia e Europa também perderam terreno na sexta-feira.
As quedas colocaram um freio em uma recuperação de semanas, sustentada por sólidos lucros corporativos de muitas grandes empresas de tecnologia. Mas a mudança para baixo na sexta-feira —a quarta queda diária consecutiva para o S&P 500— ecoou o colapso de Wall Street induzido pelas tarifas em abril.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Naquela época, rodadas de vendas empurraram o índice à beira de um mercado de baixa, antes que Trump suspendesse suas tarifas mais punitivas sete dias após anunciá-las. No final de junho, o S&P 500 havia disparado para um recorde histórico e recuperado todo o terreno perdido em março e início de abril.
Analistas observaram que as quedas do mercado alimentadas por temores de tarifas tenderam a dar lugar a recuperações, à medida que os prazos foram estendidos ou alterados. Mas agora que tarifas mais altas devem entrar em vigor na quinta-feira (7), uma renovada escalada da guerra comercial global de Trump —juntamente com sinais de fraqueza na economia— está injetando volatilidade nos mercados financeiros novamente.
“É uma espécie de sinal de alerta sobre para onde a economia pode estar se dirigindo”, disse Greg McBride, analista financeiro chefe da Bankrate. “O mercado de trabalho não está nem de perto em uma base tão sólida quanto pensávamos.”