Consignado tem efeito colateral com crédito mais caro - 18/09/2025 - Mercado

Consignado tem efeito colateral com crédito mais caro – 18/09/2025 – Mercado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elaborou um plano este ano com o objetivo de tornar o crédito mais barato para tomadores de baixa renda com as novas regras do consignado privado. Mas esses empréstimos ficaram mais caros, e agora bancos e o governo estão se esforçando para encontrar uma solução.

Apelidado de “empréstimo do Lula” por uma das aliadas mais próximas do presidente, o programa dá aos bancos e fintechs acesso a um banco de dados governamental com informações de folha de pagamento de trabalhadores do setor privado, além de garantias para proteger os credores quando um tomador é demitido. O programa foi anunciado como uma forma de reduzir juros para até 50 milhões de pessoas, além de diminuir os riscos para os bancos.

Mas os problemas técnicos são abundantes. Em alguns casos, o pagamento de empréstimos deduzido do contra-cheque dos trabalhadores foi enviado aos bancos errados. Em outros, os bancos receberam pagamentos sem saber de quais clientes eles vinham. O resultado: a inadimplência do novo programa saltou para até 16% em agosto, forçando os bancos a aumentarem as taxas de juros.

“A inadimplência se dá devido a problemas operacionais”, disse Rafael Baldi, diretor de produtos da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) em entrevista. “A inadimplência dos clientes no novo produto é mínima.”

Visando as eleições presidenciais de 2026, o governo Lula agiu rapidamente para implementar o ‘novo consignado’, projetada para impulsionar o programa já existente e disponibilizar crédito mais barato até para trabalhadores domésticos e pessoas com baixos salários. Mas cinco meses após seu lançamento, a administração está enfrentando um choque de realidade, com críticos argumentando que as falhas técnicas estão tornando os empréstimos mais arriscados, expondo o que eles dizem ter sido uma pressa para lançar o programa antes que estivesse pronto.

O governo e os bancos estão discutindo possíveis soluções em reuniões semanais, e executivos bancários dizem que automatizar completamente o sistema é a melhor solução. Mas isso levará tempo.

Por sua vez, o governo acredita que o programa está atendendo às expectativas, segundo um técnico do Ministério da Fazenda. A lei que permitiu empréstimos consignados no Brasil foi aprovada em 2003, mas não havia incentivos para que trabalhadores privados os tivessem. Este ano, o governo reformulou o programa.

A nova versão gerou mais de R$ 20 bilhões de reais em novos empréstimos em quatro meses, disse a pessoa, que pediu para não ser identificada ao discutir informações que não são públicas. A carteira do programa anterior totalizava apenas R$ 40 bilhões após 22 anos de existência.

E, mais do que simplesmente estimular a economia, o programa de empréstimos visa corrigir distorções que precisavam ser abordadas, disse a pessoa.

Uma dessas distorções era o fato de que a maioria dos trabalhadores brasileiros precisava recorrer a empréstimos pessoais para financiamento, que são mais caros, porque seus empregadores não tinham parceria com bancos para o crédito consignado.

O Banco Central, que em maio disse esperar que o programa impulsionasse a renda das famílias, reconheceu em suas últimas atas que a linha “teve menos impacto do que muitos participantes do mercado esperavam”.

GRANDES CONTRA PEQUENOS

Alguns executivos do setor estão prevendo que o sistema se corrigirá à medida que mais bancos de grande porte, que preferiram ficar de fora no início, decidam se envolver. A falta de entusiasmo dos grandes bancos foi uma das razões pelas quais as taxas de juros subiram, já que credores mais arriscados ficaram testando as águas, segundo Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú.

A ABBC (Associação Brasileira de Bancos) estima que seus membros, principalmente pequenos e médios credores, responderam por 34% dos empréstimos até 4 de setembro. Na versão anterior do programa, os maiores bancos do Brasil eram responsáveis por 90% dos empréstimos. Como esses empréstimos exigiam contratos entre bancos e cada empresa envolvida, credores com grandes serviços de gestão de folha de pagamento tinham uma vantagem competitiva.

Até o final de agosto, os maiores participantes eram o Banco do Brasil e o Itaú, mas 6 das 10 principais instituições eram credores menores ou fintechs, que têm um forte apetite por consumidores de maior risco e as taxas mais altas que eles pagam.

Mesquita, do Itaú, disse que o programa ganhará mais tração quando instituições maiores começarem a desempenhar um papel maior nos próximos meses. Então “deveremos ver o resultado pretendido”, disse ele em uma entrevista coletiva no mês passado.

Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, disse que seu banco estava otimista com o programa quando foi anunciado, chamando-o de “oportunidade colossal”, mas permaneceu cauteloso até que estivesse funcionando com sucesso.

“Estávamos oferecendo crédito apenas para trabalhadores de empresas que conhecíamos anteriormente, e para trabalhadores com pelo menos um ano em seus empregos”, disse Noronha em uma entrevista coletiva em julho.

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Alex Sander Gonçalves, diretor da ABBC e do Banco Pan, controlado pelo BTG Pactual, disse estar otimista de que as taxas de juros cairão gradualmente “ao longo do segundo semestre e no próximo ano”. Gonçalves, cujo banco está entre os maiores do país a oferecer empréstimos consignados, também apontou para partes do programa que estão funcionando conforme o planejado, como quando a garantia é transferida para os novos empregadores quando os trabalhadores mudam de emprego.

Pedro Carvalho, diretor e chefe de instituições financeiras não bancárias no Brasil da Fitch Ratings, disse que bancos menores podem ter que reduzir suas expectativas ao tentar competir com empresas maiores por empréstimos consignados.

“Os grandes bancos têm um custo de captação menor e também a maioria dos clientes”, disse Carvalho em uma entrevista. “O custo de captação das fintechs é maior, então talvez uma taxa de juros próxima à dos bancos não seja alcançável.”



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