Há, sim, nestes dias estranhos, um certo entorpecimento da razão crítica. Mais ainda: o discurso afascistado tem ganhado terreno aqui e mundo afora por causa das redes que monetizam o ódio. Vejam os EUA, a cada dia mais parecidos com uma autocracia. Ainda que as instituições estejam um tanto protegidas dos ataques do Ogro Alaranjado, os potentados econômicos não se constrangem ou em fazer mesuras a Trump ou em estimulá-lo a ser ainda mais feroz, a exemplo do que pregam as “big techs”. Os multibilionários resolveram impor a vontade do presidente norte-americano nem que seja na base do terrorismo econômico e da perseguição a quem pensa diferente.Os valores da extrema direita estão hoje mais, digamos, internacionalizados do que os dos progressistas — vejam o caso da heroicização de um fascista como Charlie Kirk. É claro que sua morte é absurda de muitos modos, seja pela brutalidade do assassinato, seja pelos dividendos que os fascistoides estão haurindo da tragédia.Dados esse contexto e essa “metafísica influente”, para empregar uma expressão de Umberto Eco, os progressistas tiveram uma vitória formidável neste domingo. Alguns analistas até poderiam dizer: “Ah, não houve tanto mérito assim das esquerdas; o centrão é que colaborou fazendo besteiras em penca”.Eu mesmo já escrevi aqui que todos devemos ser gratos aos que rasgaram a fantasia e partiram para a impunidade sem medo da reação. Como é mesmo? E já lembrei aqui, não faz tempo, a frase de Marco Maciel, vice de FHC. Em tom de pilhéria, costumava dizer: “As consequências vêm sempre depois…”E vieram. Que conselho eu daria à Câmara se tivesse tal função? Que continuasse “a tirar o manto diáfano da fantasia que cobre a nudez forte da verdade”, adaptando à realidade brasileira à epígrafe do romance “A Relíquia”, de Eça de Queirós.É importante que os brasileiros tenham clareza do que quer e do que faz o Congresso Nacional. Até porque a próxima legislatura não será muito diferente dessa. Sem mobilização e sem vigilância, eles partirão para a barbárie. É fundamental que as lideranças progressistas estudem o que se deu neste domingo e por que o país se mobilizou.
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