Valores abaixo do esperado fizeram com que a Cosan desistisse de vender ativos do grupo para reduzir sua dúvida e optar pelo acordo para obter R$ 10 bilhões de investimentos, R$ 7,5 bilhões deles injetados pelo BTG e pelo Fundo Perfin, disse na manhã desta segunda (22) o CEO Marcelo Martins.
Com o acordo, o grupo espera reduzir sua dívida total de R$ 21,5 bilhões para R$ 7,5 bilhões e ganhar fôlego. Os números consideram os resultados no segundo trimestre deste ano.
“A alavancagem [uso da dívida para financiar atividades ou investimentos] chegará a zero com o passar do tempo. A dívida da Cosan é ineficiente, o endividamento é muito alto e isso exigia uma medida muito urgente. As condições de mercado para venda de ativos são muito ruins. Buscamos alternativas por meio de investidores privados abrindo espaço para a gente, com calma, fazer gestão do portfolio”, disse Martins.
Os recursos do BTG serão aplicados pela holding dos sócios, não pelo banco BTG Pactual.
Serão feitas duas ofertas consecutivas de ações ao mercado e a ideia é que as duas combinadas cheguem a R$ 10 bilhões. A inicial, em 23 de outubro, será de R$ 7,5 bilhões. O valor da segunda, marcada para 3 de novembro, vai depender do resultado da primeira, mas o limite total será de R$ 10 bilhões.
Mesmo com a venda, Rubens Ometto continuará como controlador da Cosan, com 50,01%. Ele vai nomear seis integrantes do conselho de administração. BTG e Perfin indicarão quatro membros.
A questão do capital da Cosan era uma dúvida recorrente no mercado, comprometendo os preços dos seus papéis.
“As ações da companhia sofriam descontos relevantes pela dúvida de como adequar a questão da capital da companhia”, afirma o CFO Rodrigo Araújo.
Segundo a empresa, os recursos captados devem dar maior flexibilidade financeira ao grupo, aumentar a liquidez dos papéis em Bolsa e destravar valor aos acionistas.
A chegada dos investidores âncora também deverá fortalecer a governança corporativa e assegurar um compromisso de longo prazo com a estratégia da companhia, formalizado em acordo de acionistas com a família Ometto.
“É um processo que vai passar por muito mais criação de valor do que a venda de ativos”, defende Araújo. Segundo ele, o novo investimento vai dar o fôlego financeiro que a Cosan precisava sem que tenha de se desfazer de ativos por valores e condições que não considera ideal.
Nos últimos anos, o grupo de Ometto se transformou em um império econômico com operações no agronegócio, energia, transporte, combustíveis e gás natural. No entanto, a empresa vem sofrendo com altas taxas de juros no Brasil e lucros menores em alguns negócios.
Em declarações recentes, Ometto vem reclamando do atual patamar dos juros no Brasil. Em evento no começo do ano, ele disse que o fator que mais atrapalha o empresário brasileiro hoje é a Selic.
A Cosan também enfrenta dificuldades com dívidas desde que adquiriu uma participação na Vale em 2022. Em janeiro deste ano, o grupo Cosan se desfez do investimento. A venda, por R$ 9 bilhões, de uma fatia de 4,05% na mineradora, encerrou uma tentativa frustrada de conseguir influência na companhia. Era o ativo de maior liquidez do grupo e o que poderia ser vendido de maneira mais rápida.
A Raízen, empresa de energia do grupo, não vai receber recursos.
“Mas a gente está em processo de busca de novos sócios para a Raízen. Isso não mudou”, completa o CFO.
No primeiro trimestre deste ano, o endividamento da Raízen atingiu seu pior patamar desde que a companhia abriu capital na Bolsa, em 2021, conforme levantamento da Elos Ayta Consultoria, que mostrou que seria preciso que a empresa fosse três vezes maior, em patrimônio, para o pagamento de sua dívida.