Catarse coletiva e memória afetiva talvez expliquem a popularidade dos Guns N’ Roses em 2025. Afinal, por que uma banda de quase 40 anos que praticamente não lança músicas inéditas e vive das glórias do passado ainda lota um estádio de futebol?
O Allianz Parque, a casa do Palmeiras, em São Paulo, estava cheia neste sábado à noite para ver o vocalista Axl Rose, o guitarrista Slash e sua turma tocarem clássicos que embalaram a juventude e as aulas de inglês de muito quarentão.
Foi muito bonito de ouvir a plateia em uníssono cantando “Live and Let Die” e delirando com “Welcome to the Jungle”, que abriu o show, um dos cinco que os americanos fazem no Brasil na atual turnê. Outro momento alto foi a balada “Don’t Cry”, com seu solo de guitarra de arrepiar.
Com mais de 60 anos, Axl Rose tem um vigor impressionante no palco, andando e correndo para lá e para cá o tempo todo, embora a sua voz às vezes não acompanhe sua vontade de cantar. De todo modo, o seu desejo —e os cantores de chuveiro da plateia— seguram as letras e, assim, o pacote da apresentação funciona bem.
Slash, com sua tradicional pose de estrela de rock, de cartola e Ray Ban, é tão importante quanto Axl Rose no palco. A pegada hard rock de suas guitarras em estúdio vira mais blues ao vivo, mostrando de onde veio o rock’n’roll.
Esta homenagem às origens do gênero musical ficou bem clara nas duas faixas do Black Sabbath que a banda tocou em homenagem a Ozzy Osbourne, morto recentemente —o grupo britânico fundou o heavy metal a partir de uma base de blues.
A única coisa meio cansativa do show foi os solos de guitarra muito longos de Slash, mas não se pode dizer que eles não se encaixaram no contexto de uma apresentação com mais de duas horas e meia de duração.
Chamou a atenção a quantidade de gente jovem na plateia, adolescentes e jovens adultos com idade abaixo dos 30 anos, prova de que o público da banda se renova. São fãs dedicados, que usam bandanas vermelhas na cabeça como Axl Rose usava quando era um jovem sex symbol.
Mais cedo, os Raimundos abriram a noite com um show que começou morto mas animou à medida que a banda tocava hits como “Mulher de Fases”, “Puteiro em João Pessoa” e “Eu Quero Ver o Oco”.
Embora a banda, uma das mais representativas do rock brasileiro na década de 1990, tenha lançado um bom disco este ano —”XXX”—, ao vivo só as músicas conhecidas fazem sentido.
Digão, que assumiu os vocais depois da saída de Rodolfo Abrantes, em 2001, até tentou animar a plateia pedindo frequentemente para as pessoas pularem, mas em boa parte do show isso foi em vão, porque ninguém se importa mais com a banda. Viver do passado pode ser muito triste.


