Após duas décadas de domínio do mercado de aviões de ataque leve, a Embraer qualificou o A-29 Super Tucano para uma missão típica dos nossos dias: a de matador de drones, em particular para os países europeus que temem uma guerra com a Rússia.
A fabricante brasileira anunciou nesta semana, na feira aeronáutica emirati Dubai Air Show, ter incluído no rol de capacidades do caça turboélice a função de combater aeronaves não tripuladas de forma eficaz e barata.
O ponto de venda é simples: apesar de pequeno, o avião consegue carregar carga bélica suficiente para uma variedade de missões, e o abate de drones tende a ter melhor custo-benefício se feito por uma aeronave menos cara de operar que um caça a jato de última geração, por exemplo.
A Europa é o mercado mais óbvio, pela atual paranoia com as aparições atribuídas à Rússia de drones em seu espaço aéreo. Em setembro, na Polônia, houve de fato uma incursão de drones que o Kremlin disse ter sido acidental.
Nela, um caça americano F-35 de quinta geração, da Força Aérea da Holanda, derrubou um drone usado como isca, sem explosivos. Foi usado um míssil AIM-9X, que pode custar até US$ 500 mil (R$ 2,6 milhões hoje) para derrubar um modelo Gerbera, que sai por cerca de US$ 10 mil (R$ 52 mil).
Além disso, a hora-voo do F-35 custa cerca de US$ 40 mil (R$ 211 mil). Um Super Tucano tem hora-voo estimada em US$ 1.500 (R$ 7.900). Em relação aos armamentos, o avião vem com duas metralhadoras .50 nas asas e poderá empregar foguetes guiados a laser, outro diferencial econômico.
O principal modelo no mercado, o APKWS-2 da britânica BAE Systems, é um kit que transforma foguetes simples em armas guiadas com uma sistema de guiagem autônomo a laser. Ele custa pouco mais de US$ 20 mil (R$ 105 mil), uma fração do valor de mísseis mais avançados.
O emprego do Super Tucano, contudo, tem desvantagens. Primeiro, como é um turboélice, ele demora mais para levantar voo e chegar à região de combate, em comparação com um caça supersônico.
Segundo, como não tem um sistema poderoso de radar a bordo, ele só conseguiria operar em uma ambiente saturado de drones com o auxílio de um mapeamento feito por outros aviões.
Para a última questão, há solução: para conseguir vender o Super Tucano para Portugal, membro da Otan, a empesa capacitou o avião com sensores ópticos e infravermelhos de última geração para a mira, que podem ser municiados com dados pelo sistema de comunicação criptografada padrão da aliança militar ocidental, o Link 16.
O anúncio reflete a necessidade de soluções econômicas para o problema dos drones, que foi evidenciado ao longo da Guerra da Ucrânia, iniciada pela invasão russa de 2022. A produção em massa de aviões-robôs dificultou a vida dos militares na Otan, que temem um conflito com Moscou até o fim da década.
Após a incursão na Polônia, por exemplo, a aliança criou uma missão de reforço do espaço aéreo do Leste Europeu, mas até aqui apenas ofereceu respostas cosméticas ao problema, deslocando radares e caças que, se usados, têm impraticável custo-benefício na operação.
Para a Embraer, é um nicho. O mais provável é que haja camadas de proteção contra os drones, começando por outros aviões-robôs guiados por inteligência artificial voando em forma de “campo minado” aéreo, como a Ucrânia está testando com tecnologia francesa, passando por contramedidas eletromagnéticas, baterias antiaéreas e aviões.
O Super Tucano é, ao lado hoje da estrela KC-390 de transporte, o principal produto da divisão de defesa da fabricante paulista. Ele domina 60% do mercado, com 290 unidades compradas ou encomendadas, operando em 22 forças aéreas —o Brasil é o maior operador, com 89 aviões disponíveis.
Dez por cento de suas 600 mil horas de voo até hoje foram em combate real. Seu custo unitário depende do tamanho da encomenda e do pacote incluído —enquanto há preços de prateleira estimados em US$ 10 milhões (R$ 52 milhões), o contrato para 12 aeronaves com simulador e suporte para Portugal dobrou o valor.


