Um tema está se tornando prevalente com a aproximação do novo ano: as gigantes de tecnologia que têm sustentado a alta do mercado não estarão mais no comando.
Estrategistas de Wall Street em empresas como Bank of America e Morgan Stanley estão aconselhando clientes a comprar setores menos populares do mercado, colocando áreas como saúde, indústria e energia no topo de suas listas de compras para 2026, em detrimento do grupo das “Sete Magníficas”, que inclui Nvidia e Amazon.
Por anos, investir em grandes empresas de tecnologia foi uma aposta óbvia, dados seus balanços sólidos e lucros gordos. Agora, há um ceticismo crescente sobre se o setor —que disparou cerca de 300% desde que a alta do mercado começou, há três anos— pode continuar a justificar seus valores altíssimos e gastos ambiciosos em tecnologia de inteligência artificial.
A divulgação de resultados de líderes de IA como Oracle e Broadcom, que não atenderam às expectativas elevadas, amplificou essas preocupações esta semana.
As preocupações surgem em meio a um crescente otimismo sobre a economia dos EUA em geral no novo ano. O cenário pode levar os investidores a se concentrarem nos grupos que ficaram para trás no S&P 500, em detrimento da tecnologia.
“Estou ouvindo que as pessoas estão tirando dinheiro da negociação das ‘Sete Magníficas’ e indo para outras partes do mercado”, disse Craig Johnson, técnico-chefe de mercado da Piper Sandler & Co. “Elas não vão mais apenas perseguir as Microsofts e as Amazons; vão ampliar essa negociação.”
Já existem sinais de que os valores elevados das gigantes de tecnologia estão começando a frear o interesse dos investidores. Os fluxos estão migrando para ações cíclicas subvalorizadas, ações de pequenas empresas (small-caps) e segmentos do mercado sensíveis à economia, à medida que os negociadores se posicionam para se beneficiar do esperado impulso no crescimento econômico no próximo ano.
Desde que as ações dos EUA atingiram seu ponto mais baixo em 20 de novembro, o índice Russell 2000 de small-caps ganhou 11%, enquanto o indicador Bloomberg das empresas “Sete Magníficas” registrou metade desse avanço.
O Índice S&P 500 Equal Weight, que não faz distinção entre um gigante como a Microsoft e uma empresa relativamente pequena como a Newell Brands, tem superado seu índice irmão ponderado por capitalização no mesmo período.
A Strategas Asset Management LLC prevê em 2026 uma “grande rotação setorial” para as empresas com desempenho inferior neste ano, como ações financeiras e de consumo discricionário (bens e serviços que não são essenciais), segundo seu presidente, Jason De Sena Trennert.
É uma visão compartilhada pela equipe de pesquisa do Morgan Stanley, que enfatizou a ampliação em suas perspectivas para o próximo ano.
“Achamos que as big techs ainda podem se sair bem, mas ficarão atrás dessas novas áreas, principalmente consumo discricionário —especialmente bens— e small-caps e mid-caps [empresas de média capitalização]”, disse Michael Wilson, estrategista-chefe de ações dos EUA e diretor de investimentos do Morgan Stanley.
Wilson, que previu corretamente uma recuperação da queda de abril, diz que a ampliação do mercado pode ser apoiada pelo fato de a economia estar agora em um “cenário de ciclo inicial” após atingir o piso em abril. Isso tende a ser uma vantagem para os retardatários, como financeiras e indústrias mais cíclicas e de menor qualidade.
Michael Hartnett, do Bank of America, disse na sexta-feira que os mercados estão se antecipando a uma estratégia de “execução acelerada” em 2026, migrando das megacaps de Wall Street para as mid-caps, small-caps e micro-caps.
No início da semana, o veterano estrategista Ed Yardeni, de sua empresa homônima Yardeni Research, reduziu o peso da recomendação em big techs em relação ao resto do S&P 500, esperando uma mudança no crescimento dos lucros à frente. Ele estava com peso maior em tecnologia da informação e serviços de comunicação desde 2010.
Os fundamentos também estão ao lado deles. O crescimento dos lucros para o S&P 493 está projetado para acelerar para 9% em 2026, em comparação com 7% neste ano, já que a contribuição dos lucros das sete maiores empresas do S&P 500 deve cair para 46%, em comparação com 50%, de acordo com dados do Goldman Sachs.
Os investidores vão querer evidências de que o S&P 493 está atendendo ou superando as expectativas de lucros antes de se tornarem mais otimistas, de acordo com Michael Bailey, diretor de pesquisa da FBB Capital Partners. “Se os dados de empregos e inflação permanecerem nos níveis atuais e o Federal Reserve [banco central americano] ainda estiver facilitando [a política monetária], poderemos ver um movimento otimista no 493 no próximo ano”, acrescentou ele.
O banco central dos Estados Unidos cortou as taxas de juros pela terceira vez consecutiva na quarta-feira e reiterou sua perspectiva de outra redução no ano que vem.
Empresas de utilidades públicas, financeiras, saúde, indústria, energia e até consumo discricionário estão em alta este ano, em uma evidência de que essa ampliação já está acontecendo, aponta Max Kettner, estrategista-chefe de cross-asset no HSBC Holdings Plc. “Para mim, não se trata de saber se devemos comprar tecnologia ou os outros setores, mas sim de tecnologia e os outros setores também”, disse Kettner. “E, na minha opinião, isso deve continuar nos próximos meses.”


