Brasil é mais ou menos desigual do que era antes? - 19/12/2025 - Laura Machado

Brasil é mais ou menos desigual do que era antes? – 19/12/2025 – Laura Machado

De acordo com o dicionário, pobreza é falta, em especial, falta daquilo que é necessário à subsistência. Pobre significa ter pouco, carência. Desigualdade é um estado de coisas que não são iguais entre si, é uma comparação da uniformidade. Enquanto a pobreza designa pessoas sem acesso a uma refeição nutritiva, a desigualdade é a comparação entre a diversidade de refeições consumidas.

O Relatório da Desigualdade Global divulgado em 2025 pelo WIL (World Inequality Lab), grupo de pesquisadores liderado pelo economista francês Thomas Piketty, divulgou que o Brasil ocupa a 5ª posição entre 216 países e territórios em desigualdade de renda.

O relatório aponta que, na última década, a desigualdade no Brasil piorou ao invés de melhorar. Diferentemente das referências internacionais, a Síntese de Indicadores Sociais de 2024 do IBGE indica que a desigualdade no ano passado foi a menor já registrada na nossa história.

Quando o tema é pobreza, o Brasil não está listado pelo Banco Mundial entre os países mais graves e que serão foco dos fundos internacionais de pobreza nos próximos anos. Em conformidade com isso, os dados do IBGE dizem que a pobreza em 2024 também foi a menor já registrada na nossa história.

Não somos destaque internacional em pobreza, mas somos em desigualdade. Parece não haver divergência sobre o progresso brasileiro em termos de pobreza, mas há em termos de desigualdade. Por que isso ocorre?

A resposta depende do conceito de renda utilizado e da base de dados para mensuração da renda. A preocupação com a alta concentração de renda entre os ultrarricos é um dos eixos muito bem detalhados na mensuração de renda no relatório do WIL. O estudo utiliza as informações de pesquisas domiciliares junto ao imposto de renda e a informações das contas nacionais para apurar a renda de cada país. O uso agregado de informações permite maior acurácia da renda dos mais ricos e maior refinamento da renda do capital, que é característica da população mais rica. No entanto, essa mesma acurácia não ocorre no detalhamento da renda dos pobres, o que pode gerar uma superestimação da desigualdade.

As fontes utilizadas na Síntese de Indicadores Sociais do IBGE são somente as pesquisas domiciliares, uma boa referência para a renda de salários e do trabalhador por conta própria, sendo menos acuradas nas transferências de renda do governo e na renda do capital. Apesar de subestimar a renda dos ultrarricos e dos ultra pobres, trata-se um indicador importante para fins de percepção sobre o bem-estar da maioria da população

Em outras palavras, como afirma o relatório do IBGE, a renda geral dos brasileiros melhorou. Segundo Piketty, a renda do ultrarrico melhorou mais do que a renda do trabalho.

Qual indicador usar depende da preocupação em questão. Se a preocupação da sociedade for o bem-estar geral em termos de renda do trabalho no sentido mais abrangente, a síntese do IBGE, com base em pesquisa domiciliar, é uma boa referência. Portanto, no sentido de renda do trabalho, o Brasil está menos desigual do que era antes. Agora, se a preocupação for a renda dos ultrarricos, em particular dos rendimentos do capital, a desigualdade é maior do que imaginávamos.

Um estudo do Insper divulgado em 2022, noticiado por esta Folha, realizou uma compatibilização similar à do relatório do WIL e encontrou que a desigualdade no Brasil, apesar de mais alta do que com as pesquisas domiciliares, reduziu recentemente.

Em todos os trabalhos, parece ser de comum acordo que há diminuição da pobreza, aumento do bem-estar e queda da desigualdade em termos de renda do trabalho no Brasil.

No entanto, o impacto da acurácia na mensuração da renda dos mais pobres e dos ricos aumenta o patamar da nossa desigualdade —se a ponto de reverter a trajetória de queda ou não, permanece a discussão.


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