Meditação cristã melhora a vivência do Natal - 24/12/2025 - Cotidiano

Meditação cristã melhora a vivência do Natal – 24/12/2025 – Cotidiano

Todos os dias fico em silêncio por 20 minutos. Na maioria dos dias pratico meditação no período da manhã, mas há dias em que medito no período da tarde. Sabe o que acontece nesse momento? Não acontece nada, mas isso muda o jeito como vivo a minha vida no restante do dia.

A meditação é uma prática milenar presente em todas as grandes tradições religiosas, inclusive na tradição cristã. Há diferenças nas técnicas meditativas e nos propósitos para meditar em cada uma das religiões, mas reina um consenso ecumênico entre elas: aquietar-se por alguns minutos é sagrado.

Já me acostumei com o espanto das pessoas quando sabem que sou pastor presbiteriano e praticante da meditação. Afinal, as igrejas evangélicas são mais conhecidas hoje em dia pelos grandes painéis de LED, semelhantes aos shoppings, e pela música gospel tocada no estilo dos shows de rock-and-roll.

O método que utilizo é inspirado nos Padres do Deserto, uma tradição cristã que data do século 3º e vem sendo adaptada ao longo dos séculos. Minha prática é a seguinte: assento-me em uma cadeira, afasto as costas do encosto, apoio as mãos sobre as pernas, fecho os olhos e observo a passagem do ar pelas narinas.

Os primeiros instantes já trazem alguma calma. Em seguida, quando inspiro, recito mentalmente no ritmo da inspiração o salmo 150 versículo 6: “Todo ser que respira”. Na expiração digo mentalmente: “louve ao Senhor”.

Enquanto estou meditando surgem pensamentos sobre os compromissos do dia, mensagens que preciso responder, problemas que preciso resolver entre outros. O que faço? Nada, apenas observo os pensamentos surgirem e desaparecerem enquanto volto minha atenção para a respiração feita no ritmo do salmo 150.

A prática diária da meditação melhora a cada ano minha percepção da presença divina no cotidiano. O olhar fica limpo para ver as cores das coisas e o ouvido mais afinado para escutar os sons ao meu redor. Outro dia, percebi-me na sacada do meu apartamento observando por minutos a dança das copas das árvores da rua sob o vento.

A meditação não é uma fuga da realidade, como alguns pensam, mas sim um método para entrar em contato direto com a realidade exterior e interior. Um dos meus mestres preferidos, o teólogo espanhol Pablo d´Ors, ensina que a meditação nos resgata da dispersão mental em que vivemos, nos devolve à casa e nos ensina a conviver com nosso ser.

Uma fonte de ansiedade para pastores, imagino que igualmente para padres, no período do Natal é a autocobrança pela produção de sermões e outras mensagens religiosas que sejam capazes de sensibilizar os frequentadores de cultos e missas natalinas. A prática da meditação, nos últimos anos, vem me libertando desse tipo de ansiedade religiosa.

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Permitam-me confessar-lhes: nos últimos Natais, algumas vezes, senti que eu não queria falar nada sobre o Natal, apenas vivê-lo no silêncio. É como se estivesse reaprendendo a falar sobre o Natal a partir da língua da alma, falar sobre algo que emerge no silêncio interior e não se guia pelas fórmulas doutrinárias prontas e seguras.

É um tipo de calma profundamente perturbadora, que guarda alguma semelhança com as perturbações experimentadas por José e Maria quando ficaram sabendo, pelo anjo Gabriel, que uma nova vida estava sendo gerada misteriosamente.

Em síntese, a meditação é um tipo de experiência virginal, a alma de quem medita vive cada encontro com o sagrado como se fosse a primeira vez. Não por acaso, os místicos gostam de falar sobre Deus a partir da linguagem da intimidade amorosa.



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