O nó que empreendimentos sociais estão tentando desatar - 30/12/2025 - Políticas e Justiça

O nó que empreendimentos sociais estão tentando desatar – 30/12/2025 – Políticas e Justiça

A exclusão de favelas de bens e serviços formais é histórica. A renda impediu muitas famílias de acessar crédito bancário, de adquirir eletrodomésticos e de reformar suas casas com o auxílio de arquitetos. Sem falar nas limitações na coleta de esgoto, no transporte público e nas políticas de habitação.

Esse “nó do mercado”, como venho chamando, tem, entretanto, se afrouxado em alguns territórios. Amparados pela constatação de que tais áreas são importantes reservas de capital humano e social, bem como mercados estratégicos, empreendedores sociais têm atuado de forma central em São Paulo.

Empreendimentos sociais compreendem organizações do terceiro setor e negócios de impacto pautados pela inovação e por missões que focam na criação de valor social. Seja via seleção de famílias aptas a melhorias habitacionais, seja via doações de estudos de viabilidade de obras públicas, esses empreendimentos entregam valor social enquanto alimentam mercados locais.

No Jardim Lapenna, a Fundação Tide Setubal investiu R$ 1,2 milhão em projetos básicos de obras de um piscinão e de melhorias de ruas e calçadas e articulou a construção de uma nova UBS (Unidade Básica de Saúde). No Jardim Ibirapuera, a Vivenda, um negócio de impacto, conecta domicílios com inadequações habitacionais a empresas, que doam recursos para reformas, mobilizando mão de obra e lojas de material de construção locais.

Uma beneficiária conta que não teria condições de pagar: “Eu ganho um salário mínimo. […] Numa reforma de uma cozinha dessas, […] é no mínimo, mão de obra e material, de R$ 5 mil a R$ 7 mil. Eu não tenho condições.”

Para desatar o nó, as organizações têm costurado alianças. A Vivenda conta com o auxílio de uma organização da sociedade civil que realiza escutas frequentes com a população do Jardim Ibirapuera. Já a Fundação Tide Setubal se aproximou da associação de moradores e auxilia as Guardiãs do Território, coletivo que acompanha as necessidades dos moradores em cada rua do bairro.

As aproximações mexem com a política nessas áreas. “Hoje eu enxergo eles [a Fundação] como também um ponto de referência aqui na ação social como liderança”, afirma o presidente da associação.

Afrouxar o nó do mercado favorece negócios das favelas e de fora à medida que movimenta a economia local e que as insere nas redes de consumo de produtos e serviços formais. E entrega valor social, podendo livrar moradores das enchentes que varrem seus móveis a cada chuva ou lhes propiciando bem-estar a partir do habitar em casas sem inadequações.

Em ambas as áreas, a atuação do poder público é visível. No Jardim Ibirapuera, uma organização social gestora do equipamento de assistência social ajudou a selecionar beneficiários da Vivenda. Administrações municipais firmaram parcerias com o empreendimento, que passou a operar em programas de habitação. No Lapenna, a Prefeitura de São Paulo não somente fez uso do mais de R$ 1 milhão doado pela Fundação Tide Setubal, como multiplicou a aposta, ao investir R$ 98 milhões adicionais na continuidade dos projetos lançados.

Empreendimentos sociais notaram que acesso à mercadoria e direitos, bem como investimentos privados e públicos são opostos nem tão opostos assim, que por vezes se complementam. Aí surgem as oportunidades.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço Políticas e Justiça da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Guilherme Formicki foi “Eu Sou Favela”, de Seu Jorge.


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