Com a COP 30 se aproximando e o Brasil como país-sede em 2025, os holofotes se voltam para as soluções e o impacto que o país pode gerar em termos de sustentabilidade. Nesse cenário, a bioeconomia surge como um pilar fundamental, e nela, os pequenos negócios brasileiros emergem como protagonistas silenciosos, mas potentes. Longe dos grandes conglomerados, são as micro e pequenas empresas que estão na linha de frente da inovação verde, transformando a riqueza natural do Brasil em oportunidades econômicas sustentáveis e pavimentando o caminho para um futuro mais verde.
A bioeconomia, que abrange desde a produção de alimentos e energia até a criação de novos materiais e biotecnologias a partir de recursos biológicos, oferece um vasto campo para a atuação dos pequenos empreendedores. Eles, muitas vezes, operam em comunidades locais, com profundo conhecimento de seus ecossistemas e matérias-primas. Seja na fabricação de cosméticos com insumos amazônicos, no desenvolvimento de biofertilizantes para a agricultura familiar ou na produção de bioplásticos a partir de resíduos, a criatividade e a agilidade desses negócios são essenciais. Eles não apenas geram renda e empregos, mas também promovem a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento territorial de forma inclusiva.
O Impacto da Bioeconomia em Números:
O potencial da bioeconomia no Brasil é imenso e já se reflete em números expressivos. O Produto Interno Bruto da Bioeconomia (PIB-Bio), por exemplo, representou 25,3% do PIB brasileiro em 2023, totalizando R$ 2,74 trilhões. Este dado, divulgado pelo Observatório de Inovação e Conhecimento em Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), demonstra a relevância econômica do setor. Além disso, projeções indicam que a bioeconomia no Brasil pode gerar um faturamento anual de US$ 284 bilhões, segundo estudo da Embrapa em parceria com outras entidades.
Especificamente na Amazônia, o impacto é ainda mais evidente. Estimativas do WRI Brasil apontam que um investimento de R$ 720 milhões em bioeconomia na região poderia gerar um aumento de R$ 816 milhões no PIB local e a criação de 6,5 mil novos empregos. Isso ressalta o papel da bioeconomia como vetor de desenvolvimento regional e inclusão produtiva.
Exemplos Reais da Bioeconomia em Pequenos Negócios:
No coração da Amazônia, diversas iniciativas exemplificam essa efervescência. A Manioca, por exemplo, é uma empresa paraense que valoriza ingredientes amazônicos como tucupi e jambu, transformando-os em produtos alimentícios de alta qualidade. Eles trabalham em parceria com comunidades locais, garantindo uma cadeia de valor justa e sustentável, ao mesmo tempo em que levam os sabores da floresta para a mesa do consumidor de forma inovadora.
Outro caso inspirador é o da Biozer da Amazônia, sediada em Manaus. A empresa desenvolve bioprodutos e soluções para o tratamento de efluentes e resíduos, utilizando microrganismos para decompor poluentes. Essa tecnologia, nascida da pesquisa e desenvolvida por um pequeno negócio, oferece uma alternativa sustentável para a gestão ambiental, com aplicações em diversos setores, desde a indústria até o saneamento básico.
Fora da Amazônia, a bioeconomia também floresce. Na Bahia, a Aromas do Campo produz cosméticos naturais e fitoterápicos a partir de extratos vegetais e óleos essenciais da flora brasileira. Eles investem em pesquisa e desenvolvimento para criar produtos que não apenas beneficiam a saúde e a beleza, mas também respeitam o meio ambiente e as comunidades fornecedoras.
Esses exemplos demonstram como a pequena escala não é um limitador, mas um diferencial. A proximidade com a matéria-prima, a flexibilidade para inovar e a capacidade de construir relações de confiança com as comunidades locais são vantagens competitivas que esses negócios exploram. Prova disso é que 79% das startups de impacto no Brasil são voltadas para resolver problemas da área ambiental, segundo um estudo da Union + Webster, de 2019.
A proximidade da COP 30, que acontecerá em Belém, Amazônia, intensifica a necessidade de um diálogo sobre como o Brasil pode apresentar ao mundo modelos de desenvolvimento que conciliem progresso econômico com preservação ambiental. E é aí que o pequeno negócio se destaca. Diferente de grandes indústrias, a escala e a flexibilidade das micro e pequenas empresas permitem a adoção de práticas mais sustentáveis, com menor impacto ambiental e maior adaptabilidade às demandas do mercado por produtos e serviços “verdes”. Muitos já nascem com um DNA de sustentabilidade, integrando em seus modelos de negócio princípios de economia circular, valorização de cadeias de suprimentos locais e comércio justo.
Uma pesquisa do Sebrae e IBGE revela que 74% dos pequenos negócios já implementaram o controle do consumo de energia, 65% adotaram o controle do consumo de água e 55% praticam a separação para a coleta seletiva de lixo, demonstrando o crescente engajamento dessas empresas com a sustentabilidade.
No entanto, o caminho para o pleno florescimento da bioeconomia nos pequenos negócios não está isento de desafios. O acesso a crédito para investimentos em tecnologias sustentáveis, a capacitação em gestão e as barreiras regulatórias ainda são obstáculos significativos. É nesse ponto que o apoio de instituições como o Sebrae se torna crucial, oferecendo programas de fomento, consultoria e conexão com mercados. A integração desses pequenos atores em grandes cadeias de valor da bioeconomia, e a facilitação de sua participação em eventos e plataformas que lhes deem visibilidade, como a própria COP 30, são passos essenciais.
Olhando para a COP 30, o Brasil tem uma oportunidade ímpar de mostrar ao mundo que a bioeconomia é um motor de desenvolvimento que começa na base, nos pequenos negócios. É por meio deles que a inovação sustentável ganha capilaridade, que a riqueza da nossa biodiversidade é valorizada de forma justa e que as soluções para os desafios climáticos se tornam tangíveis. Investir e apoiar esses empreendedores é, portanto, investir no futuro do Brasil e na sua liderança em uma economia global cada vez mais verde e consciente.
Fontes
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Bioeconomia pode impulsionar crescimento e empregos na Amazônia | WRI Brasil
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PIB da Bioeconomia - FGV Agro
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Bioeconomia no Brasil pode gerar faturamento de US$ 284 bi anuais - Portal Embrapa
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Práticas Sustentáveis: 74% dos pequenos negócios já adotam o consumo racional de energia | ASN Nacional - Agência Sebrae de Notícias
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Conheça a nova tendência de empreendedorismo no Brasil que une inovação e sustentabilidade - Gazeta do Povo