No dia em que me apresentarem um líder de extrema esquerda que tenha voz de comando sobre dezenas de parlamentares e seja considerado um guia por milhões de pessoas, então retirarei essa tal “polarização” da galeria das vigarices intelectuais. Enquanto isso não acontece, dispensarei a essa fraude aquilo que ela é essencialmente: esforço para criar uma candidatura de direita que seja bem-sucedida em dar um banho de loja ideológico no reacionarismo, de modo a fazê-lo palatável. E o objetivo é se opor não aos inexistentes extremistas de esquerda (como força política viável), mas ao centro democrático. E o meio do caminho entre esse centro democrático e a extrema direita não é mais centro nem é democrático: trata-se apenas de extremistas de direita que se querem mais limpinhos e cheirosos do que os Bolsonaros…DE VOLTADepois de uma digressão, volto lá ao começo. Os que se opuseram à determinação do trio Guilherme Derrite-Hugo Motta-Tarcísio de Freitas de tirar a Polícia Federal da investigação dos crimes de facção não estavam movidos por um capricho ideológico. Não se tratava de um esforço para os seus valores e a sua visão de mundo, buscando colonizar espíritos e ganhar adeptos para a sua causa.Querem saber? Não vejo assim nem mesmo a iniciativa desse trio notável. O ponto: a Polícia Federal está incomodando potentados no país, inclusive certos figurões do centrão. E alguns deles pretendem que certas investigações não avancem. Sabem que o cerco às organizações criminosas, com a possibilidade até mesmo de se criar uma agência de combate às máfias no país, acabará chegando à indústria multibilionária das emendas, por exemplo. Assim, em vez de buscar fortalecer o papel da Polícia Federal, como propõe a PEC da Segurança Pública, Derrite, em parceria com Motta e Tarcísio, tentou enfraquecê-la.Isso não é opinião. Estava na primeira versão do texto: a PF só atuaria mediante pedido dos governadores. Na segunda versão, teria de haver aviso prévio. Ou por outra: ela só iria para a rua depois de vazar uma operação. O Ministério Público atuaria quando cabível. A propósito: quando não é? Motta disse que andou a conversar com ministros do STF a respeito. Não sei se os fez de seus consultores. Mas creio que o tenham alertado para a inconstitucionalidade arreganhada.Choque se visões de mudo? Polarizações cristalizadas? Olhares inconciliáveis? Não. Só o desejo, de um lado, de blindar aliados da ação da Polícia Federal e, de outro, de preservar o papel que a Constituição reserva à instituição. Não era uma polarização: apenas um confronto entre o certo e o errado.TERRORISMONo que respeita à caracterização dos crimes de facção como terrorismo, a soma de populismo eleitoreiro, estroinice subserviente e irresponsabilidade atingiu seu ponto de fervura. Nada impedia, como finalmente se viu, que o sr. Derrite, na condição de relator, propusesse a pena máxima aos faccionados; que considerasse o crime inafiançável, imprescritível e não passível de graça ou anistia; que dificultasse a progressão… E, por óbvio, ele não precisava mexer na lei antiterrorismo para demonstrar ser do tipo durão…
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