Como bem disse o psicanalista Christian Dunker, aqui em sua coluna no UOL, o estranhamento coletivo vem do fato de serem bonecas, por um lado, mas excessivamente verdadeiras, por outro, com textura de pele, dimensões reais, proporções exatas. A dedicação a algo que emula o ser humano gera um desconforto.A grande maioria das pessoas que têm esses bonecos que reproduzem feições humanas os tratam como uma diversão, um passatempo. Outros vão além e gastam bastante tempo, como um hobby, não diferindo muito de quem coleciona carros, miniaturas e afins. Em outros casos, o objeto é usado em meio a processos terapêuticos, para tentar superar traumas.Por fim, há uma minoria que trata o objeto como se vivo estivesse. Nesses casos, mais do que ataques e xingamentos, essas pessoas precisariam de acolhida e apoio psicológico. Mas é mais fácil cuspir do que abraçar.Os casos problemáticos estão longe de ser um problema real para a sociedade, A questão é que os casos, digamos, patológicos, em que a pessoa passa a acreditar realmente que aquele pedaço de borracha e plástico é uma criança, que, como eu disse, estão muito longe de ser maioria, chamam a atenção da sociedade. Atenção, repúdio, ojeriza, quantos adjetivos couberem aí.Casos como de uma pessoa que levou um brinquedo para ser vacinado e de outra que moveu processo judicial para garantir licença maternidade por ter comprado o produto têm servido como gatilho para muita gente se surfar em cima. Alguns por boa vontade, outros por oportunismo, surgem projetos de lei, declarações de gestores públicos, e afins, tratando a questão como se houvesse uma epidemia. E não há.A consequência da sociedade tratar uma questão como algo muito maior do que realmente seja é que começa a provocar a percepção de que os bebês reborn vão invadir o mundo e tomar o lugar dos seres humanos. Esse bombardeio mexe com pessoas toscas ou emocionalmente instáveis, causando cenas infelizes como arquivamos na capital mineira.
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