Análise: Trump testa diplomacia do susto em rivais menores - 27/01/2025 - Mundo

Análise: Trump testa diplomacia do susto em rivais menores – 27/01/2025 – Mundo

Na largada de seu segundo mandato, o presidente Donald Trump vem testando uma espécie de diplomacia do susto: ensaia ameaças, principalmente mas não só tarifárias, e observa a reação de seus potenciais adversários.

A tática do americano foi desenhada na ordem executiva por ele dada no dia da posse, há uma semana, quando pediu a revisão do regime comercial dos Estados Unidos com todos seus parceiros. Disse buscar inconsistências, mas seu objetivo central é político.

Primeiro, apelar ao público interno, sua base de apoio dentro do âmbito político do MAGA, o “Faça a América grandiosa novamente”, seu mote desde a campanha de 2016. É preciso dizer que empregos americanos estão sendo protegidos.

O argumento já valia na sua cruzada contra a imigração ilegal, ora tornada uma prioridade de segurança nacional. Não por acaso, saiu do entrechoque entre a questão e uma ameaça tarifária o primeiro exemplo bem-sucedido, até aqui, do modus operandi de Trump.

A Colômbia tentou falar grosso ante o envio de deportados em aviões militares para o país, irritando Trump. A resposta foi uma ameaça de escalada tarifária que começaria em 25% e chegaria 50% para alíquotas de importação de produtos de Bogotá.

Os EUA teriam pouco a perder se o presidente esquerdista Gustavo Petro não acabasse cedendo. Ambos os países, que cultivam uma aliança desde os anos 1990, têm um comércio harmonizado por um acordo que passou a valer em 2012.

De janeiro a novembro de 2024, últimos dados disponíveis no Censo dos EUA, isso gerou US$ 33,4 bilhões de corrente comercial, com um superávit de US$ 1 bilhão para os americanos. Em comparação, EUA e China trocaram US$ 688,3 bilhões em bens no ano passado.

Mas para a Colômbia, isso significaria um abalo com seu maior parceiro comercial e principal destino de seu petróleo. Para ficar na metáfora do jogo de truco, Petro trucou, mas teve de correr quando Trump gritou “seis”.

É tentador, pela faixa ideológica semelhante dos líderes, ver aí um ensaio do republicano para o Brasil, que também encrencou com o tratamento dispensado aos deportados que os EUA repatriaram no fim da semana.

Mas o caso brasileiro, exceto que o presidente Lula (PT) decida ir para um enfrentamento precoce, é bastante diferente. O comércio bilateral nos 11 primeiros meses de 2024, segundo o Censo americano, foi de 83,8 bilhões, com um superávit de quase US$ 7 bilhões para Washington.

Desde 2007, quando a China se aproximou para tomar dos EUA o posto de maior sócio do Brasil, o que ocorreu dois anos depois, os EUA se dão melhor na relação com Brasília. Isso, em princípio, tira o foco de Trump daqui, embora eventuais medidas protecionistas possam bagunçar o mercado brasileiro.

Mas não parece haver imunidade na diplomacia do susto dos EUA, embora até aqui ela só tenha sido aplicada a atores menores e mais suscetíveis.

Trump ameaçou guerra tarifária até aqui contra o Canadá, a quem gostaria de anexar, ao Panamá, de quem quer tirar o canal que já foi americano, à Dinamarca, dona da cobiçada Groenlândia que quer comprar e da Rússia —neste caso, para pressionar por uma negociação para um acordo na Guerra da Ucrânia.

Tirando o caso russo, uma aparente bravata que não foi comprada por Moscou até pela inutilidade de mais sanções em uma corrente comercial quase nula, os outros exemplos ainda estão no ar. Eles servem tanto a objetivos domésticos quanto a ações que antes pareceriam impossíveis.

No caso da Groenlândia, o assédio a Copenhague coloca em risco toda a relação com a Otan e a União Europeia, clubes respectivamente militar e político integrados pelos dinamarqueses.

A diplomacia do susto, contudo, não se fez vista ainda nos primeiros passos da relação de Trump com Xi Jinping. A China foi o foco de sua estreia no poder em 2017, quando adotou uma guerra tarifária que teve ampla repercussão mundial e disparou, no campo político, a atual Guerra Fria 2.0.

Até aqui, Trump pegou leve com os chineses, prometendo boas relações e até um acordo comercial. Isso pode ter um impacto colateral negativo para o Brasil, que faturou bastante com a briga no primeiro mandato do republicano.

A partir das elevações de tarifa, que foram obviamente mútuas, a China passou a comprar mais produtos do agro brasileiro. A fatia da soja brasileira no mercado chinês subiu de cerca de 45% para quase 75% no ano passado, enquanto a da americana foi de 40% para menos de 20%.

Isso pode mudar agora, na mão contrária, mas o fato é que ainda não se sabe exatamente qual será a tática de Trump dentro da estratégia maior de lidar com sua maior rival do século 21. Por ora, o susto foi testado em quem se assusta mais facilmente.



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