No domingo (6), tivemos o primeiro vez das eleições municipais de 2024. Feitas as contas, começaram os exercícios reproduzindo velhos vícios que se traduzem em uma pergunta: qual é o recado das urnas?
Nenhum. Há a eterna tentativa de ver as eleições locais porquê a antessala das eleições nacionais, que ocorrem dois anos depois. Ledo miragem. Primeiro, porque as eleições municipais têm inferior teor ideológico. Não se discute o papel do Estado, as diretrizes econômicas ou os alinhamentos internacionais. A discussão é muito mais concreta. Ficam na mesa temas porquê a qualidade do ensino nas escolas de ensino fundamental, o intensidade de entrada aos serviços de saúde no SUS, o saneamento obrigatório e a moradia popular, a mobilidade urbana e o transporte coletivo. E conhecimento e capacidade de gestão não são monopólios da direita, da esquerda ou do núcleo.
Segundo, porque o votante é muito mais sábio que imagina nossa vã filosofia. Não vota em padrinhos. Os dois atuais maiores líderes populares, Lula e Bolsonaro, tiveram alguma influência, mas marginal. O votante vai, durante a campanha, por um processo de decantação, desenvolvendo rejeições, erguendo preferências, consolidando escolhas, numa misteriosa e complexa dinâmica. Mais de 30% dos eleitores em todo o Brasil abstiveram-se ou votaram nulo e branco.
Sempre tive resistência à teoria da reeleição, introduzida pelo PSDB. A população demonstrou que não tem problemas com ela. Mais de 80% dos prefeitos candidatos foram reeleitos. Prefeito bom, independente de partido e valores ideológicos, fica. Prefeito ruim é apeado do poder. Os prefeitos de capitais JHC (Maceió – 83,25% – PL), Bruno Reis (Salvador – 78,66%- União Brasil), João Campos (Recife – 78,11% – PSB) e Eduardo Paes (Rio de Janeiro – 60,47% – PSD) tiveram vitórias expressivas. Já o prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (PRD), obteve somente 2,2% dos votos. Em Minas, prefeitas do PT de duas das quatro maiores cidades, Marília Campos (Narração) e Margarida Salomão (Juiz de Fora), obtiveram vitórias inquestionáveis, graças a sua boa avaliação. Há viés ideológico, incapacidade de avaliação pelo povo ou qualquer recado das urnas nesses números? Nenhum. Ventos existem e formam ondas. Há eleições com clima de mudança. A de 2024 foi marcada por ares favoráveis à perpetuidade.
E as repercussões para 2026? Inexistentes no forçoso. Lula continua muito maior que o PT e a esquerda. Bolsonaro mantém seu estilo pouco institucionalizado. Dos seis partidos que elegeram mais de 400 prefeitos cada (PSD, MDB, PP, União, PL e Republicanos), cinco deles estarão, porquê sempre, dentro de uma postura pragmática, prontos para concordar e ter ministros em governos futuros da direita, da esquerda ou do núcleo. O PSD, maior vitorioso, com a eleição de 878 prefeitos no primeiro vez, abriga seu dirigente maior, Gilberto Kassab – principal assessor do Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, potencial candidato da direita em 2026 –, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro Alexandre da Silveira alinhados com Lula e com o Governo Federalista.
Portanto, vagarosamente com andor analítico que o santo da política é de barro. O povo votou procurando o melhor gestor para o seu cotidiano nas cidades. A manutenção ou a mudança dos atuais rumos nacionais estão por ser construídas e não há nenhum recado das urnas sobre isto. Publicidade