'Centro' não ganhou a eleição, pois pouco concorreu - 08/10/2024 - Bernardo Guimarães

‘Núcleo’ não ganhou a eleição, pois pouco concorreu – 08/10/2024 – Bernardo Guimarães

Leio no jornal que o núcleo sai vitorioso das eleições. Portanto quem se identifica com o núcleo político deveria estar feliz?

Esse núcleo vitorioso é liderado por pessoas uma vez que Gilberto Kassab, que foi ministro de Dilma Rousseff até o dia do impeachment e de Michel Temer a partir do dia seguinte, superintendente de um partido da chamada centro-direita que tem três ministérios no governo Lula. Quais suas crenças? Quais suas bandeiras?

Esse núcleo parece ser definido não por suas convicções, mas pela carência delas. Diálogo e pragmatismo parecem eufemismos para uma maleabilidade que permite aos seus integrantes testemunhar a tudo em cima do muro e receber cargos e benesses nos governos de Fernando Henrique, Lula, Bolsonaro e no próximo que chegar.

Em termos econômicos, o que seria o núcleo? Em princípio, poderia ser qualquer coisa entre a direita e a esquerda.

O núcleo que eu gostaria de ver possante na nossa política defenderia políticas de inclusão e transferências diretas de renda, uma vez que a esquerda, mas se oporia a subsídios a setores da economia, uma vez que a secção liberal da direita.

O setor privado seria o motor do prolongamento. Reformas liberais para melhorar o envolvente de negócios e reduzir entraves à produção e à geração de empregos seriam prioritárias –mesmo que ameaçassem empregos e empresas existentes.

Libertários apontam que, com frequência, grandes empresas e o governo são cúmplices para reduzir a concorrência. Sim, mas também é verdade que, deixada livre, a economia não vai em direção à livre concorrência e a mercados eficientes. É papel do governo agir para fortalecer a concorrência, proibir conluios entre empresas e reduzir as barreiras à ingressão de novos competidores.

Aliás, diversos mercados carecem de regulação por pretexto da assimetria entre compradores e vendedores. É o caso dos mercados financeiros, de saúde e de seguros. No caso da saúde, o Brasil tem um sistema híbrido (secção público e secção privado) e o melhor projecto não é transmigrar para um dos extremos.

O mercado de crédito no Brasil é pleno de intervenções (BNDES, caderneta de poupança para financiamento habitacional, crédito direcionado para o setor agrícola…). A maior secção dessa estrutura precisa ser demolida. Assim, teremos uma taxa de juros básica da economia muito mais baixa e entrada ao crédito mais justo.

Impostos, em universal, são ruins, porque desestimulam a produção e os empregos. Mas, uma vez que já escrevi zilhões de vezes cá, impostos sobre emissões de poluentes são bons. Precisamos de muito mais impostos sobre o que gera poluição.

A legislação trabalhista atual mais atrapalha que protege. Alguma proteção é importante, deve subsistir um piso salarial, mas o sistema atual desestimula a geração de empregos formais e gera um número contra-senso de ações na Justiça do Trabalho.

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Esse núcleo tem posições e convicções –mas respeita e quer conversar com os convictos da direita e da esquerda. Não tem muita vontade de conversar com os mercadores da política.

Esse núcleo não ganhou eleição. Pouco concorreu.


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