O escritório climático das Nações Unidas realizou uma reunião urgente nesta terça-feira (30) devido a preocupações de que os preços altos de hospedagem para a COP30, cúpula climática que será realizada em Belém em novembro, possam excluir países mais pobres das negociações, segundo diplomatas e um documento visto pela Reuters.
Preocupações com a logística têm prejudicado os preparativos para a COP30 na capital paraense. Países em desenvolvimento alertaram que não podem arcar com os preços de hospedagem em Belém, que dispararam em meio à escassez de quartos.Na reunião de emergência do “bureau” da COP no órgão climático da ONU nesta terça-feira, o Brasil concordou em lidar com as preocupações dos países sobre hospedagem e dar um retorno em uma nova reunião em 11 de agosto, disse Richard Muyungi, presidente do Grupo de Negociadores Africanos, que convocou a reunião.
“Nos asseguraram que revisitaremos isso no dia 11, para obter garantias de que a hospedagem será adequada para todos os delegados”, disse Muyungi à Reuters após a reunião.
Ele afirmou que os países africanos querem evitar reduzir sua participação devido ao custo.
“Não estamos prontos para reduzir os números. O Brasil tem muitas opções para termos uma COP melhor, uma boa COP. Por isso estamos pressionando para que o Brasil forneça respostas melhores, em vez de nos dizer para limitar nossa delegação”, declarou Muyungi.
Outro diplomata familiarizado com a reunião disse que reclamações sobre acessibilidade vieram tanto de nações pobres quanto de ricas.
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A agenda da reunião de terça-feira, vista pela Reuters, confirmou que foi convocada para abordar “preparativos operacionais e logísticos para a conferência sobre mudanças climáticas em Belém” e as preocupações do Grupo de Negociadores Africanos sobre o assunto.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Autoridades brasileiras que organizam a cúpula têm repetido que garantem que países mais pobres terão acesso a hospedagem com preços que possam pagar.
Um porta-voz do órgão climático da ONU, UNFCCC (na sigla em inglês), recusou-se a comentar a reunião.
Navios de cruzeiro
O Brasil está correndo para expandir os 18 mil leitos de hotel normalmente disponíveis em Belém, uma cidade costeira de 1,3 milhão de habitantes, para hospedar as aproximadamente 45 mil pessoas projetadas para participar da COP30.
O governo disse neste mês que garantiu dois navios de cruzeiro para fornecer 6.000 leitos extras para delegados. Também abriu reservas para países em desenvolvimento para hospedagem mais acessível com diárias de até US$ 220 (cerca de R$ 1.230, na cotação desta quarta-feira, 30).
Isso ainda está acima da chamada “diária de subsistência” que a ONU oferece a algumas nações mais pobres para apoiar sua participação nas COPs. Para Belém, o valor é de US$ 149 (aproximadamente R$ 830).
Dois diplomatas da ONU mostraram à Reuters cotações que receberam de hotéis e administradores de propriedades em Belém com tarifas de cerca de US$ 700 (R$ 3.900) por pessoa por noite durante a COP30.
Funcionários de seis governos, incluindo nações europeias mais ricas, disseram à Reuters que ainda não garantiram hospedagem devido aos altos preços, e alguns disseram que estão se preparando para reduzir sua participação.
Um porta-voz do governo holandês disse que pode precisar reduzir pela metade sua delegação em comparação com COPs recentes, quando os Países Baixos enviaram cerca de 90 pessoas durante o evento de duas semanas, incluindo enviados, negociadores e representantes da juventude.
O vice-ministro do clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, disse à Reuters no início deste mês: “Não temos hospedagem. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo”. “Em um caso extremo, talvez tenhamos que não comparecer”, afirmou também.