Ex-prefeito de NY: chamar facções como terrorismo preocupa - 29/05/2025 - Cotidiano

Ex-prefeito de NY: chamar facções como terrorismo preocupa – 29/05/2025 – Cotidiano

O político americano Bill de Blasio, prefeito da cidade de Nova York (EUA) de 2014 a 2021, afirmou nesta quinta-feira (29) que os brasileiros deveriam estar preocupados com a possibilidade de Washington classificar as facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho como terroristas.

Segundo ele, essa mudança pode ser usada para “objetivos políticos nefastos” pelo presidente Donald Trump. De Blasio participou de um evento em São Paulo que debate segurança pública, direitos humanos e democracia.

“Se eu fosse um cidadão brasileiro, eu estaria muito preocupado com os Estados Unidos tentando usar algo, que deveria ser um conceito legal e jurídico para combater o terrorismo e transformar, numa ferramenta política”, disse o ex-prefeito. “Eu também não parto do pressuposto de que isso é inevitável.”

O assunto foi discutido por autoridades americanas e brasileiras no início de maio, durante visita do diplomata americano David Gamble, responsável pelo setor de sanções do Departamento de Estado dos EUA (equivalente ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro). Ele se reuniu com técnicos do Ministério da Justiça.

Na ocasião, o governo brasileiro afirmou que discorda do uso dessa classificação para facções com—o PCC e Comando Vermelho.

A gestão Lula (PT) considera que o termo não se adequa ao sistema legal brasileiro, sendo que as facções no país não atuam em defesa de uma causa ou ideologia —critério usado para definir o terrorismo na legislação do Brasil—, mas na busca de lucro de forma ilícita.

Como mostrou a Folha, a ideia é debatida pelo governo Trump a partir de sugestões do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Hoje, os EUA já usam essa nomenclatura para a facção venezuelana Tren de Aragua. A mudança permitiria até que imigrantes brasileiros presos nos EUA ligados a essas organizações pudessem ser enviados para uma prisão em El Salvador.

“Se é possível que Donald Trump e seu governo usem a classificação de organização terrorista para objetivos políticos nefastos no Brasil? É perfeitamente possível”, disse De Blasio. “Quem acha que isso é moralmente ou praticamente impossível não está prestando atenção.”

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Durante o primeiro mandato de Trump na Casa Branca (de 2017 a 2021) ele criticou De Blasio por diversas vezes, especialmente durante a pandemia. O ex-prefeito de Nova York é considerado um integrante de uma ala mais à esquerda do Partido Democrata, de oposição ao republicano.

O ex-prefeito participou nesta quinta (29) do 2º Seminário Internacional de Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia, promovido pelo Iree (Instituto de Reforma das Relações entre Estado e Empresa) e pelo IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa). O evento teve como foco o combate ao crime organizado no Brasil e no mundo.

De Blasio citou medidas como o combate à corrupção dentro das polícias, a cooperação entre promotorias e polícia em investigações criminais, o foco em investigações que mirem grandes esquemas criminosos —em vez de prisões de suspeitos de crimes com menor potencial ofensivo—, o policiamento comunitário, e a liberação do uso da maconha como algumas medidas que funcionaram nos Estados Unidos.

Ele também fez um apelo a autoridades e cidadãos brasileiros pelo combate ao crime organizado, tema que ele relacionou diretamente à defesa da democracia.

“Nós precisamos de vocês. Este é um dos países mais importantes do mundo”, ele afirmou.

“Precisamos que a democracia seja bem-sucedida no Brasil e precisamos que vocês derrotem o crime organizado, para o mundo. Vocês devem fazer isso por si próprios, por suas famílias e por suas comunidades, não façam por nós [a comunidade internacional]. Mas saibam que o mundo todo está olhando e precisa de vocês.”



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