Reinaldo Azevedo

Golpe de Flávio, silêncio dos indecentes e o livro “A Anatomia do Fascismo”

E ainda:”A colaboração conservadora na chegada do fascismo ao poder se deu de diversos modos. Em primeiro lugar, havia cumplicidade com a violência fascista contra a esquerda. Uma das decisões mais fatídicas, no caso alemão, foi a suspensão da proibição das atividades da SA, assinada por Von Papen em 16 de junho de 1932. Os ‘squadristti’ de Mussolini seriam impotentes sem a vista grossa e até mesmo a ajuda direta da polícia e do Exército italianos. Outra forma de cumplicidade foi a concessão de respeitabilidade. Já vimos que Giolitti ajudou Mussolini a se tornar respeitável ao incluí-lo em sua colisão eleitoral, em maio de 1921. Alfred Hugenberg, executivo da Krupp e líder do partido que competia de forma mais direta com Hitler, o Partido Popular Nacional Alemão, alternava entre atacar o arrivista nazista e aparecer em comícios a seu lado. Um desses comícios realizados em Bad Harzburg, no outono de 1931, levou o público a acreditar que os dois haviam formado uma ‘Frente Harzburg’. Mas, enquanto Hugenberg ajudava a tornar Hitler mais aceitável, os filiados do DNVP se bandeavam para os nazistas, tão mais excitantes.”Se o mecanismo lhes parecer familiar, não é mera coincidência:”Os conservadores resolveram jogar alto, quando um acordo com o partido fascista bem-sucedido passou a aparecer possível: o poder com uma base de massas se tornou, então, uma meta alcançável a eles também. Chegou a haver competição entre os conservadores que tentavam conquistar o apoio da totalidade ou de parte do movimento fascista (alguns deles tentando apoderar-se de uma ala ou da base). Na Alemanha, Schleicher competia com Von Papen, ambos tentando atrelar o arisco cavalo nazista a sua carroça — como Giolitti competira com Salandra na Itália”.ENCERROSe notarem, não há mais conservadores propriamente no Brasil que possam se livrar do peso do bolsonarismo, daí que os absurdos de Flávio tenham provocado um ruidoso silêncio.Na própria imprensa, ele não é tratado como alguém que ameaça o país com um golpe. Seria só mais uma das vozes aceitáveis do “conservadorismo” à moda da casa. De tal modo se alargou o conceito que um golpista é só parte do cardápio político que se oferece ao público.Relembro esses trechos de Paxton porque essas escolhas têm história. Como sabemos, no momento, os ditos “conservadores”, inclusive os da imprensa, resolveram fazer uma dobradinha com o bolsonarismo contra, ora vejam!, o Supremo, onde estaria a verdadeira ameaça ao que entendem ser a ordem liberal.Nada disso, como se nota, é novo. Paxton observa que os conservadores, então, desprezaram quaisquer outras alianças e “optaram pela alternativa fascista”. E acrescenta: “Os líderes fascistas, de sua parte, conseguiram a ‘normalização’ necessária ao compartilhamento do poder. Não tinha que acontecer assim”.



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