Jimmy Kimmel disse que Donald Trump se acha um rei e que a tirania está em alta nos Estados Unidos numa mensagem de Natal transmitida aos britânicos pelo canal de TV Channel 4.
Com bom humor, o apresentador relembrou a suspensão de seu talk show em setembro, após fazer uma piada que criticava o movimento de direita Maga por supostamente tirar proveito da morte de Charlie Kirk.
“Mas sabe o que aconteceu depois? Um milagre de Natal. Bom, era setembro, então foi um milagre de setembro. Mas o Natal parece chegar cada vez mais cedo a cada ano, não é?”, disse o apresentador na mensagem. O Jimmy Kimmel Live! voltou ao ar em alguns dias, depois de a Disney, dona da emissora, ser amplamente criticada e acusada de censura.
“Nosso programa voltou mais forte do que nunca. Nós vencemos, o presidente perdeu, e agora eu estou de volta ao ar todas as noites dando ao político mais poderoso da Terra um esporro mais do que merecido”, disse ainda sobre o episódio.
Sobre o clima político nos Estados Unidos, falou sobre a ascensão da direita. “Posso dizer que, do ponto de vista do fascismo, este foi um ano realmente excelente. A tirania está em plena expansão por aqui.”
Leia o discurso de Kimmel, na íntegra, abaixo.
Oi, eu sou o Jimmy Kimmel.
Não faço ideia se você sabe quem eu sou, mas me pediram para entregar a Mensagem Alternativa de Natal deste ano (que, pelo que me disseram, é algo importante), então espero que saiba. Mas, se não souber, eu apresento o que vocês chamam de chat show (a gente chama de talk show) no que vocês chamam de colônias, eu acho? Sinceramente, não faço a menor ideia do que está acontecendo aí do outro lado.
O que eu sei é o que está acontecendo aqui. E posso dizer que, do ponto de vista do fascismo, este foi um ano realmente excelente. A tirania está em plena expansão por aqui.
Talvez você tenha lido nos seus jornais coloridos que o presidente do meu país gostaria de me calar porque eu não o adoro do jeito que ele gosta de ser adorado. O governo americano fez uma ameaça contra mim e contra a empresa para a qual trabalho e, de repente, saímos do ar. Mas sabe o que aconteceu depois? Um milagre de Natal. Bom, era setembro, então foi um milagre de setembro. Mas o Natal parece chegar cada vez mais cedo a cada ano, não é?
Milhões e milhões de pessoas se levantaram e disseram: “Não, isso não é aceitável”. Pessoas que nunca assistiram ao meu programa, pessoas que estavam registradas dizendo que odiavam o meu programa se manifestaram, protestaram, marcharam —tudo isso para apoiar o direito à liberdade de expressão. E, porque tanta gente falou, nós voltamos. Nosso programa voltou mais forte do que nunca. Nós vencemos, o presidente perdeu, e agora eu estou de volta ao ar todas as noites dando ao político mais poderoso da Terra um esporro mais do que merecido. Essa palavra existe, né? Usei direito?
E a razão de eu estar contando essa história é porque talvez você esteja pensando: “Ah, um governo silenciar seus críticos é algo que acontece em lugares como Rússia, Coreia do Norte ou Los Angeles, não no Reino Unido”. Bom, era isso que a gente pensava também, e agora temos o rei Donny Oitavo pedindo execuções. As coisas acontecem rápido.
Sabe, é curioso: nós, americanos, temos muito orgulho de não termos um rei. É meio que o motivo pelo qual fomos embora. No começo deste ano, dezenas de milhões de nós marcharam em protestos chamados No Kings. Vocês tiveram alguns aí também. E, só para deixar claro, não temos nada contra o rei de vocês. Quer dizer, não sei se você sabe disso, mas o filho dele mora aqui. A gente só —bom, alguns de nós— tem um problema com o cara que acha que é o nosso rei.
Aqui nos Estados Unidos, neste momento, estamos tanto figurativamente quanto literalmente demolindo as estruturas da nossa democracia. Da imprensa livre à ciência, da medicina à independência do Judiciário, até a própria Casa Branca, estamos numa bagunça completa. E sabemos que isso também afeta vocês, e eu só queria dizer: desculpa. E queremos que vocês saibam —ou, pelo menos, eu quero que vocês saibam— que nem todos nós somos como ele. Nem todos nós somos assim.
Olha, eu sei (pelo musical “Hamilton”) que nossos países não começaram da melhor forma, mas também sei (por ter visto Simplesmente Amor) que temos uma relação especial. Então, se eu puder falar em nome do meu país — o que eu definitivamente não posso — nossa mensagem para vocês, nossos amigos do outro lado do oceano, neste Natal é: não desistam da gente. Estamos passando por uma certa instabilidade agora, mas vamos nos endireitar. Pode não parecer, mas nós amamos vocês. Nós até amamos as coisas em vocês de que vocês mesmos não gostam, como o Simon Cowell, por exemplo. Nós não somos muito espertos. Somos americanos. Ninguém sabe melhor do que vocês que estamos sempre um pouquinho atrasados para o jogo. Mas a gente aparece no final? Talvez. Nos deem uns três anos. Por favor.
Obrigado pela paciência, e obrigado pelo Homem-Aranha. Feliz Natal e boas festas.


