Mexilhão invasor se adapta a rios da amazônia - 19/12/2025 - Ambiente

Mexilhão invasor se adapta a rios da amazônia – 19/12/2025 – Ambiente

O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), molusco asiático considerado uma praga no Brasil, apresenta crescimento populacional acelerado e vasta dispersão na amazônia, aponta um estudo preliminar divulgado nesta sexta-feira (19).

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A presença do mexilhão-dourado é uma ameaça aos ecossistemas locais e para a comunidade ribeirinha, além de problemas estruturais a hidrelétricas. Os primeiros registros da espécie invasora na amazônia é de 2023, quando foram vistos no rio Tocantis, no Pará.

Agora o estudo do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Norte (Cepnor/ICMBio) quantifica a densidade populacional do molusco na região. A média é de 11.940 indivíduos por metro quadrado, muito superior à de 2023, de 88 por metro quadrado.

O molusco do tamanho de uma moeda (cerca de 5 cm) chegou à América do Sul no início da década de 1990, por meio da água de lastro de navios mercantes, e logo encontrou nas águas brasileiras condições favoráveis para a sua expansão.

Entre 2015 e 2016, o animal foi classificado como uma ameaça ao acesso à água potável no nordeste do Brasil, ao entupir tubulações e invadir máquinas de usinas hidrelétricas. Nesta época, eram cerca de 200 mil indivíduos por metro quadrado no rio São Francisco.

Em 2000, o abastecimento de água em Porto Alegre foi afetado pelo molusco, que entupia as tubulações que captavam o produto na margem do lago Guaíba. A situação só foi normalizada totalmente dois anos depois.

Rafael Anaisce, engenheiro de pesca e pesquisador no Cepnor/ICMBio, afirma que o mexilhão já se adaptou aos rios da amazônia, o que representa riscos ao equilíbrio ambiental, diminuindo a biodiversidade e afetando processos naturais essenciais para o funcionamento dos ecossistemas. O molusco teria chegado a região por meio do manejo de alevinos, que transportavam larvas.

A espécie altera a transparência da água devido à sua alta capacidade de filtração, modifica a qualidade do habitat ao liberar pseudofezes e acumula metais e toxinas. Também reduz a presença de animais que vivem no fundo dos rios, compete com espécies nativas por alimento e espaço, e provoca desequilíbrios na vida aquática, incluindo os peixes.

“Nossa nova publicação já apresenta os dados preliminares da estrutura populacional. A partir disso, confirmamos que a espécie já reproduziu na amazônia pelo menos uma vez ao longo desse período, pelo tamanho dos indivíduos que foram encontrados”, destacou Anaisce.

Os estudos se basearam em colônias encontras nos municípios paraenses de Marabá, Itupiranga e Tucuruí. Contudo, Anaisce afirma que a espécie já se expandiu até o arquipélago do Marajó e em Bacarena, na região metropolitana de Belém —não há registros do molusco na capital.Segundo o pesquisador, a erradicação é inviável, restando apenas o controle por meio da limpeza de embarcações e estrutura de hidrelétricas. Ele explica que o mexilhão-dourado não tem predador natural e não serve para consumo humano, devido seu tamanho e alto teor de toxinas.

“Erradicar esse molusco bivalve é impossível. Não tem uma metodologia que seja 100% eficaz. A mecânica que é uma simples medida, mas tem vários outros procedimentos químicos que também são utilizados para acabar com o mexilhão, que pode impactar o ambiente”, frisou.

O estudo da Cepnor/ICMBio intitulado “Golden but not precious: first quali-quantitative data on golden mussels bioinvasion in the Amazon”, publicado na revista científica Acta Limnologica Brasiliensia, foi financiado pelo Instituto Evandro Chagas e pelo Ministério da Saúde. Outra pesquisa complementar ao caso está prevista de ser divulgada em janeiro de 2026.



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