O tornado que quase varreu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, do mapa não durou mais que um minuto, relatam moradores. Os ventos fortes começaram por volta das 18h desta sexta-feira (7) e derrubaram casas, escolas e comércios, deixando cinco mortos e um rastro de destruição.
A comerciante Pâmela Thalia Moretti de Oliveira, que teve parte da casa destruída pelo tornado, afirma que um foi um minuto de pânico. “A gente segurava as portas de vidro para não estourar. Todo mundo em choque, gente gritando.”
Segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), pela escala Fujita, que mede a intensidade dos ventos e os danos causados por tornados, o fenômeno foi classificado, preliminarmente, como F2, categoria que corresponde a ventos entre 180 km/h e 250 km/h.
No entanto, técnicos apontam fortes indícios de que, em alguns trechos da cidade, as rajadas podem ter ultrapassado os 250 km/h.
O autônomo Zenil Vidal de Vargas conta que estava no carro, chegando na casa do filho, quando foi surpreendido pelo vento forte.
“Parecia chuva de pedra. Encostei o carro do lado [da casa], achando que ia proteger, mas não adiantou. Foi coisa de segundos”, diz. O veículo foi atingido por telhas, madeiras e pedaços de um muro da residência, mas ele não se feriu.
A casa do filho de Zenil ficou completamente destruída. Neste sábado, a família ficou empenhada na retirada dos escombros.
“Hoje é só o início da reconstrução. Vamos ter que providenciar materiais, telhas, uma lona para colocar por cima, porque se chover vai estar mais protegido um pouquinho”, contou.
Na cidade, o cenário é de devastação. Ainda não há um levantamento oficial do número de casas e estabelecimentos comerciais atingidos, mas a prefeitura estima que aproximadamente 80% dos imóveis sofreram avarias. Segundo o secretário de Assistência Social, André Cândido, praticamente todos os prédios públicos foram atingidos. “Na medida do possível, vamos atendendo essas pessoas, mas é um trabalho longo”, destacou.
Nas áreas mais afetadas, é possível ver quarteirões em que todos os imóveis desabaram e viraram escombros.
A maior parte das residências está sem energia elétrica, fornecimento de água e conexão com internet. Técnicos das concessionárias trabalham para restabelecer os serviços.
Foi decretado estado de calamidade pública, já reconhecido pelo governo federal. O prefeito Sezar Bovino (PSD) comparou a situação a de uma região em guerra.
“Só via na guerra, em Israel, aqueles países em conflito. Agora, aqui em Rio Bonito, uma tragédia desse porte.”
Segundo ele, pela intensidade do tornado, o número de vítimas poderia ter sido maior. A prioridade, afirmou, foi atender os feridos e, na sequência, restabelecer energia elétrica, abastecimento de água e iniciar reparos nas residências danificadas.
Mais de 700 pessoas ficaram feridas e foram levadas a hospitais de cidades próximas.
Os desabrigados estão sendo levados para cidades vizinhas. O primeiro abrigo provisório foi instalado na Casa de Líderes, em Laranjeiras do Sul, a 18 km de Rio Bonito do Iguaçu.
Na tarde deste sábado (8), voluntários se reuniram para ajudar a retirar entulho das vias e tentar cobrir com plásticos e lonas os telhados das casas que não haviam desabado completamente.
“Hoje é só o início [do trabalho de reconstrução]. Vamos ver daqui para frente como vai ser”, diz, desolado, Luiz Fernando Guimarães. E le não teve a casa atingida, mas ajudava outras famílias que foram afetadas.
Auxílio
A Itaipu Binacional informou que disponibilizou sua estrutura para auxiliar o município. No fim da tarde, um caminhão com telhas, água e materiais de construção deixou Foz do Iguaçu com destino à cidade. Equipes, incluindo engenheiros, foram deslocadas para avaliar necessidades e definir ações de apoio à reconstrução.
O coordenador da Defesa Civil do Paraná, coronel Fernando Schunig, afirmou que o trabalho neste sábado concentrou-se em acolher os desabrigados.
“Estamos trabalhando também na retirada de entulhos, distribuição de ajuda humanitária, cestas básicas, alimentação, e no atendimento de famílias com necessidades especiais. É um trabalho intenso e demorado”, disse.
A 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, sediada em Cascavel, mobilizou militares e viaturas para apoiar as ações da Defesa Civil. Equipes das unidades de Cascavel, Guarapuava e Francisco Beltrão atuam no transporte de donativos e no apoio logístico às famílias afetadas pelas tempestades.
Várias cidades estão mobilizadas em arrecadar donativos. Em Cascavel, um ponto de arrecadação foi montado em frente à prefeitura. O Corpo de Bombeiros em Cascavel também está recebendo doações no quartel central. A prioridade no momento são colchões, água potável, alimentos, roupas e cobertores.


