Sempre que escrevo uma coluna sobre Greta é a mesma coisa: haters disparando sua metralhadora de ódio. Quer ver? É só descer até os comentários e você provavelmente vai encontrar alguém saraivando a sueca. Ou saraivando a colunista que teve o desplante de escrever sobre a sueca. Se a coluna for para as redes sociais, o thread ficará baleado feito uma peneira.
Não há nada de incomum em criticar uma pessoa. Até Jesus Cristo, se estivesse entre nós por esses dias, teria sua cota de cancelamento. A questão é o teor dos comentários dirigidos à ativista, especialmente depois de ter sido libertada da prisão em Israel.
“Se sofreu tanto, por que está tão roliça?”. “Fizeram ela tomar banho e pentear os cabelos.” “Pena que não foi jogada em Megido numa cela com 500 pra ser currada”. “Se ela fosse cuidar de casa teria mais prestígio”. “Vadia”. “Vagabunda”. “Isso é falta de lavar uma louça.” “Pau na greta da Greta.” “Vaca.” “Não tem roupa para lavar?”. “Sem óbito, sem like.”
E tudo isso em um único post, na página de um grande veículo –não coloco o link aqui porque não se trata de uma questão pessoal com esse ou aquele @, mas de um padrão coletivo que pode ser verificado em diversas postagens.
O que esses comentários têm em comum, além de serem rasos, baixos e desprovidos de qualquer espessura argumentativa? O fato de serem carregados de misoginia. Repassemos: críticas à aparência física (incluindo gordofobia), sugestão de “voltar para o tanque”, sugestão de estupro e até de feminicídio. E tudo isso sem nenhum constrangimento. Se a ativista fosse homem, teria recebido esses mesmos comentários?
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No dia em que Greta foi libertada, Donald Trump chamou-a de “louca”. O que há de loucura em integrar uma missão humanitária que leva alimentos e remédios a um povo submetido à bloqueio, fome e genocídio? O que há de loucura em se manifestar de forma pacífica contra uma crise climática que vai afetar todas as formas de vida na Terra? Aliás, não é extremamente lúcido ligar essa crise ao colonialismo, como Greta vem fazendo? E mais: loucura não seria ignorar o aquecimento, tal qual faz quem a chama de louca?
Trump usou o expediente que muitos homens usam –chamar uma mulher de louca– porque não tinha nada de consistente ou relevante para falar contra Greta. Assim como aqueles que a xingaram no post.
Goste-se ou não de Greta, é inegável a sua retidão. Então por que tanta raiva? Porque assim como milhares de mulheres que foram queimadas em tempos medievais e linchadas na praça pública das redes, Greta fascina e assombra.
Fascina por ter uma força e uma disposição que a maioria de seus detratores não tem, sentados em seus sofás achando que vão mudar o mundo com comentários de ódio. Assombra por não se acuar, por não se deixar inibir pela violência patriarcal, por, mesmo sendo vítima de humilhações, como as que sofreu na prisão, não puxar o holofote para si.
E ainda, por ser fiel ao que acredita, ainda que isso lhe custe um certo ostracismo midiático, quando a maioria das outras pessoas vive desesperada por sucesso, fama, aceitação ou por dois ou três likes para algum comentário miserável, como aqueles citados acima.
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