Em evento do manto sagrado, tupinambás pedem a Lula demarcações

Em evento do véu sagrado, tupinambás pedem a Lula demarcações

No evento final de recepção do véu sagrado tupinambá, indígenas cobraram ações para demarcação de terras e retirada de intrusos de territórios dos povos originários. O evento foi realizado nesta quinta-feira (12) no Museu Vernáculo, onde o véu está amparado, e contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e outros representantes dos governos federalista, estadual e municipal.

A anciã Yakuy Tupinambá defendeu que o véu seja alocado oficialmente no território tupinambá, na Bahia, e não no museu. Ela também criticou a tese do marco temporal e cobrou mais medidas de demarcação de terras indígenas.

“Reiteramos nossa insatisfação com a postura colonizadora personificada pelo Estado brasílio, através das autarquias representativas que mais uma vez dilaceram nossos direitos originários e, muito mais que isso, fere profundamente o que mais prezamos: a nossa crença e a nossa fé”, disse Yakuy Tupinambá.

“Nossas reivindicações são: retorno do véu para localidade mãe Olivença [município no litoral baiano], construindo um museu de arte tupinambá; exigimos o saudação e a garantia dos nossos direitos; autonomia do Ministério dos Povos Indígenas, regeneração da Funai; anistia e reparação aos povos indígenas e africanos; não ao marco temporal, demarcação já!”, complementou.

Rio de Janeiro (RJ) 12/09/2024 – Povo tupinambá de Olivença, na Bahia, participa da celebração do retorno do Véu Tupinambá ao Brasil, no Museu Vernáculo. Foto: Fernando Frazão/Dependência Brasil

O presidente Lula destacou que as pessoas podem reclamar na frente do presidente da República, do governo federalista, o que não ocorria em governos anteriores, quando os indígenas sequer eram recebidos pelo presidente. Segundo ele, existe uma luta política difícil para seguir nos direitos dos povos originários e criticou a tese do marco temporal.

“Eu também sou contra a tese do marco temporal. Fiz questão de vetar esse atentado aos povos indígenas. Mas o Congresso Vernáculo, usando uma regalia respaldada por lei, derrubou o meu veto”, disse Lula. “A maioria dos congressistas não tem compromisso com os povos indígenas. O compromisso deles é com grandes fazendas e grande proprietários”.

O presidente também afirmou que o governo tem disposto as questões indígenas uma vez que prioritárias e citou a geração do Ministério dos Povos Indígenas.

“Fizemos e continuamos a fazer a desintrusão de territórios ocupados por não indígenas. Homologamos novas terras e temos certeza que faremos muito mais. Sempre enfrentando desafios, que são muitos e precisam ser tratados de forma negociada, com diálogo e transparência”, afirmou.

Sobre o véu tupinambá, Lula defendeu que o Museu Vernáculo seja considerado uma vez que um abrigo temporário, e que sejam criadas condições para a transferência do objeto sagrado ao território indígena na Bahia.

“O véu está no Museu Vernáculo, mas espero que todos compreendam que o lugar dele não é cá. Espero que todos compreendam, e eu tenho certeza que vamos ter a compreensão do nosso governador da Bahia, que disse que é tupinambá também. Ele tem a obrigação e o compromisso histórico de erigir na Bahia um lugar que possa receber esse véu e preservá-lo”, disse o presidente.

Véu tupinambá

O véu tupinambá tem 1,80 metros de profundeza e milhares de penas vermelhas de pássaros guará. Estava guardado ao lado de outros quatro mantos no Museu Vernáculo da Dinamarca. Chegou a Copenhague em 1689, mas foi provavelmente produzido quase um século antes.

Artefatos tupis foram levados à Europa desde a primeira viagem portuguesa ao Brasil e o processo continuou ao longo das décadas seguintes, uma vez que evidências da “invenção” do novo território e uma vez que itens valiosos para coleções europeias.

Outros dez mantos semelhantes, também confeccionados com penas de guará, continuam expatriados em museus europeus, segundo levantamento feito pela pesquisadora norte-americana Amy Buono, da Universidade de Chapman.

Exclusivamente no Museu Vernáculo da Dinamarca, existem outros quatro além do que foi devolvido ao Brasil. No Museu de História Originário da Universidade de Florença (na Itália), existem outros dois. Há também mantos tupinambás guardados no Museu das Culturas, em Basileia (na Suíça); no Museu Real de Arte e História, em Bruxelas (na Bélgica); Museu du Quai Branly, em Paris (na França); e na Livraria Ambrosiana de Milão (na Itália).

A doação do véu foi anunciada em junho de 2023, depois de muro de um ano de negociações entre as instituições do Brasil e da Dinamarca. A peça chegou ao Brasil no dia 11 de julho deste ano.

Um cronograma de celebrações foi organizado para o retorno do véu. Lideranças espirituais tupinambás e pajés fizeram atividades de guarida, proteção e bênçãos ao véu sagrado. Durante três dias, os indígenas ficaram em vigília nos periferia do Museu Vernáculo.



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