Javier Milei: Argentina constrói milagre econômico? - 29/11/2024 - Mercado

Javier Milei: Argentina constrói milagre econômico? – 29/11/2024 – Mercado

No final de 2023, a Argentina estava à beira de um precipício, assolada por uma confluência de problemas econômicos que lembravam suas crises mais angustiantes.

O excesso monetário havia aumentado para o dobro do nível de 1975, que desencadeou o infame Rodrigazo, uma espiral inflacionária que inaugurou cinco décadas de estagnação.

As responsabilidades com juros do banco central haviam aumentado para quatro vezes a base monetária, superando até mesmo a proporção de 1989 que precipitou a hiperinflação. No final do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) estava em queda livre após 15 anos de estagnação. Os preços aumentaram em 211% durante 2023.

Diante do desastre iminente, ações rápidas e decisivas foram nosso único recurso. Começamos cortando os gastos públicos em 30% em termos reais, alcançando o equilíbrio fiscal no nosso primeiro mês no cargo. Também desvalorizamos o peso e aumentamos os impostos sobre importação, reduzindo o prêmio do mercado negro de mais de 100% para um mais gerenciável 25%.

O risco-país, uma medida do risco de inadimplência, caiu 40% e a inflação mensal de preços no atacado (que disparou para 54% em dezembro de 2023) caiu para 2%.

Em uma ousada ruptura com a longa história de excessos fiscais da Argentina, nossa política principal é a busca de um orçamento equilibrado. Nossas necessidades de financiamento, além do refinanciamento, serão nulas.

Com o estoque total de dívida nominal permanecendo estável, nossa relação dívida/PIB diminuirá gradualmente, restaurando efetivamente a solvência fiscal. Em um país onde promessas são frequentemente feitas de forma leviana, focamos em transformar nosso compromisso com o equilíbrio fiscal em uma realidade tangível.

À medida que provamos nos próximos meses que podemos sustentar nosso compromisso com a solvência fiscal e pagar nossas dívidas externas pendentes, os prêmios de risco do país devem desaparecer gradualmente, abrindo caminho para maior poupança, maior produtividade e crescimento real dos salários.

Nossa política monetária passou por várias fases distintas. A fase inicial envolveu a erradicação da impressão de dinheiro para financiar os gastos do governo. A segunda fase viu a eliminação das responsabilidades remuneradas do banco central, eliminando o crescimento automático da oferta de dinheiro impulsionado pelas taxas de juros.

Com essas responsabilidades eliminadas até o nosso sétimo mês no cargo, o crescimento adicional do dinheiro foi apenas resultado do banco central comprando dólares, potencialmente arriscando uma expansão monetária maior do que a aceitável. Para evitar isso, passamos para nossa terceira (e atual) fase, onde diminuímos essas compras de reservas, interrompendo assim essa fonte remanescente de impressão de dinheiro.

Agora é apenas uma questão de tempo até que a inflação caia para níveis internacionais (se não ficar mais baixo). Uma vez alcançado isso, levantaremos os controles de capital e cessaremos todas as intervenções cambiais restantes.

O crescimento econômico está no caminho para se recuperar, impulsionado por fatores cíclicos e estruturais. Após uma queda acentuada, os salários e pensões no setor privado estão agora em alta, alimentando a demanda agregada e a maior utilização da capacidade.

Os estoques acumulados em 2023 em antecipação à hiperinflação foram gradualmente reduzidos, normalizando ainda mais a demanda agregada. No lado estrutural, colheremos os benefícios de um aumento de 15% do PIB em poupança agregada, cortesia do ajuste fiscal.

Tudo isso está sendo combinado com um ambicioso programa de reformas estruturais —amplamente encapsulado na Lei de Bases aprovada pelo Congresso em julho. A eliminação das leis de controle de aluguel, por exemplo, levou a um aumento de 170% na oferta e a uma queda de 40% nos custos reais de locação. Somado a isso, a redução dos prêmios de risco do país, decorrente da restauração da sustentabilidade fiscal, serve como um poderoso catalisador para poupança e investimento.

O que nos espera em 2025 é mais do que já fizemos: estrito equilíbrio fiscal, sem crescimento monetário e desregulamentação. A Argentina sofreu com um excesso de déficits, impressão de dinheiro e regulamentações inúteis. Tudo isso precisa acabar.

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À medida que buscamos um governo menor, a consolidação fiscal precisará se aprofundar. E, atentos ao equilíbrio fiscal como sempre somos, sabemos que são os menores gastos que abrem caminho para uma menor tributação. Também estamos cientes de que desfazer a bagunça regulatória da Argentina levará tempo. O desafio é manter as reformas em andamento.

Fizemos progressos significativos, mas ainda há muito a ser feito. Se tivermos sucesso, muitos podem rotular nossas conquistas como um “milagre”. Mas não é milagre —é o resultado de governar com prudência macroeconômica e aderir aos princípios de liberdade econômica que enriqueceram nações. Trabalhamos para mostrar ao mundo que abraçar as ideias de liberdade traz prosperidade.

Texto de The Economist, traduzido por Fernando Narazaki, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com



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