Bem-vindes. Como estão todes? Podem ficar tranquiles, não vou encher o saque de ninguém com essu coise chate de linguagem neutre. Como se diz em português atual, sou “old school”, do tempo em que o idioma é que nos causava problemas, não nós a ele.
Depois de encarar orações coordenadas assindéticas e sindéticas, ou subordinadas substantivas, adjetivas e adverbiais, ainda tínhamos que decifrar enigmas como: “Essa oração é causal, comparativa, consecutiva, conformativa, temporal ou final?”
Sem falar quando o (hoje tão demandado) pronome —que, aliás, são de seis tipos— resolvia dar uma voltinha e aparecer no meio do verbo, fazendo coisas tão estranhas como “dar-te-ei” ou “pedir-lhe-ia”, as famosas mesóclises que junto com as ênclises e próclises —apesar de parecerem ser de uso exclusivo do Temer— eram despejadas sobre todos os inocentes presentes em sala de aula.
E ainda tinham as conjugações no indicativo, subjuntivo e imperativo. As conjunções que podiam ser, entre outras, aditivas, adversativas, conclusivas, causais ou condicionais. Proparoxítonas, paroxítonas e oxítonas, os ditongos que vinham em quatro modelos: oral, nasal crescente ou decrescente. Tanta coisa que você não sabia o porquê, mas tinha que saber a diferença entre porque, por que, porquê e por quê.
Com uma encrenca desse tamanho, ninguém pensava em complicar ainda mais o troço.
Para gringo anglofalante é fácil. Basta escolher um pronome para chamar de seu ou sua e está tudo resolvido. Se alguém é “welcome” tanto faz se é homem, mulher ou o que vier, o mesmo se a pessoa está “delayed”, é “beautiful” ou “boring”.
Aqui is diferent. Além dos pronomes, o gênero flexiona em quase tudo: substantivos, artigos, adjetivos, particípios e até numerais. Casa, mar, céu, atrasado, bonita, chato, amarela, um, duas, meu, nossa… tudo isso aqui tem gênero, lá não. Para “neutralizar” tanta coisa nem imitando o Mussum.
No país onde a maioria da galera não chegou a conclusão se a primeira pessoa do verbo Ser é “a gente somos” ou “é nóis”, esse papo de linguagem neutra soa, além de elitista e metido à besta, ridículo.
Não precisamos de uma nova língua, a nossa é complicada, mas é bonita e dá conta. Talvez uns acertos aqui, umas reformas acolá, mas sem impor, nem cancelar, só umas coisinhas para começar, por exemplo:
Para distinguir MAIS de MAS
Não precisa nada de MAIS
MAS tem que prestar atenção
MAIS é soma, adição
MAS é contradição
MAIS é quantidade
MAS é adversidade
MAS que diferença isso faz?
Talvez nem faça MAIS
MAS mal não faz também
Insistir que MAS é igual porém
E MAIS é o que ainda vem
MAS pode ser muito MAIS
Só que agora MAIS não tem
MAS um dia pode ter MAIS.
Fique em paz, até MAIS
MAS pense um pouco MAIS
Na hora de escrever MAS ou MAIS.