Há algumas coisas boas em “Jurassic World: Recomeço”, o sétimo filme da franquia dos dinossauros iniciada por Steven Spielberg em 1993. São elas Scarlett Johansson, Mahershala Ali e, talvez, o fato de ser 15 minutos mais curto que seu antecessor de 2022.
Mesmo assim, são duas horas e 14 minutos de obviedades, más ideias e merchandising de chocolates e balas feitos sob medida para atacar o público infantil que entrou em férias nesta semana e está pronto para mastigar mais um filme ordinário de Hollywood.
A bomba dirigida por Gareth Edwards —de “Rogue One: Uma História Star Wars”— estreia nesta quinta (3) e a sinopse é ridícula. Uma equipe de aventureiros precisa capturar sangue vivo dos maiores dinossauros que vivem nos três ambientes —na água, na terra e no ar. Com essas amostras, uma empresa farmacêutica poderá estender a vida dos humanos em 20 anos.
No mundo em questão, os dinos já são história antiga. O público se cansou deles e os animais remanescentes sobrevivem perto da linha do Equador. A ex-militar Zora, papel de Johansson, lidera o time, que viaja no barco de Duncan, vivido por Ali, e tem entre seus membros um desajeitado cientista, que vai questionar o uso da patente médica, e um representante da empresa —malvado, é claro.
Para aumentar a lista de clichês, uma família feliz está viajando no seu próprio veleiro quando é atacada por um monstro marinho e pede ajuda ao barco da equipe. Nesta família, há uma criança, que adotará um dino simpático e minúsculo na selva da ilha proibida para garantir momentos de fofice.
O roteiro não tem nenhum pudor em inventar saídas conforme as dificuldades vão aparecendo. Por exemplo: após o grupo chegar na ilha com seu barco destruído, Zora acalma a todos dizendo que havia contratado previamente um helicóptero de resgate. Ainda bem, né?
“Recomeço” é do tipo de filme em que, quando alguém cai de um precipício, árvores amortecem sua queda antes de ele acabar em um lago idílico. E, após tudo isso, o felizardo emerge sem um arranhão e com os óculos perfeitamente alocados no nariz.
E quantas vezes mais teremos que ver no cinema a cena do susto por trás? Você conhece. É quando a câmera mostra alguém de frente fazendo uma coisa qualquer e então um barulho aterrorizante irrompe atrás dele. Então a câmera pula para as costas do sujeito, enquanto ele lentamente se vira, com os olhos esbugalhados de horror.
É claro que para se destacar das duas trilogias anteriores, esse sétimo filme, que é um novo reboot, precisa ter monstros à altura. Que tal, então, dinos mutantes?
Falando nisso, mesmo passados 32 anos da produção original, os animais não superam aqueles que apareceram em “Jurassic Park”.
Na verdade, com a chegada das inteligências artificiais que criam imagens para serem exibidas regularmente nas redes sociais, as cenas com os gigantescos dinossauros impressionam cada vez menos.
A cena em que o cientista se aproxima de uma perna do maior animal da Terra, aquele herbívoro de pescoço longo, e chora de emoção é tão falsa que parece que o cara está alisando um tronco de árvore.
No século passado, o impacto da história original de Michael Crichton fez cientistas irem aos jornais para explicar porque um DNA de dinossauro recuperado de um fóssil dificilmente daria origem a um animal em laboratório.
Os DNAs fossilizados dos dinos parecem durar 6,8 milhões de anos, cerca de um décimo do tempo de sua existência —os gigantes foram extintos 66 milhões de anos.
Neste caso, a sequência de “Recomeço” poderia utilizar outro clichê do audiovisual recente: em vez de monstros mutantes, na próxima vez. Johansson poderia lutar contra dinos zumbis.