A menopausa é o nome oferecido à lombada físico-existencial que as pessoas nascidas com ovários atravessam rumo à vetustez; ela oferece a dor de cabeça e a oportunidade de que repensem suas vidas. Homens cis e mulheres trans chegarão exatamente ao mesmo lugar, mas enquanto estes descem de escada, nós descemos de elevador. Dessa forma, fica mais fácil, e útil, subestimar o envelhecimento do lado dos homens. A desigualdade de gênero, com sua preocupação pelo controle da semblante da mulher, tenta fazer do sazão feminino alguma coisa vexatório.
A menopausa está entre os fenômenos que juramos que não nos afetará se estivermos muito informados e com a “estudo em dia”. Má notícia: não existe experiência a priori, só ao passar por ela descobriremos os calos que serão pisados e “estudo em dia” é propaganda enganosa de coaching. Vale dar uma checada nos sintomas com o ginecologista para não transpor achando que parou de menstruar porque está prenhe aos 50 anos ou que está ficando louca por não se reconhecer física e psiquicamente de uma hora para outra.
Os hormônios que regem o funcionamento corporal —que vai do controle do humor à resposta sexual; do viço epidérmico à retenção urinária— rateiam de uma hora para a outra, nos obrigando a ter consciência de nossa data de validade e parar para perguntar o que desejamos enfim.
Sabemos uma vez que nossa quadra lida com os temas da finitude e do luto. A proposta tem sido a medicalização e a tradução das mudanças uma vez que doenças, sendo tratadas por produtos que a industria farmacêutica empurra sem qualquer compromisso com a saúde.
Não houve espaço na qual as mulheres não tenham feito a prelecção de morada, refletindo sobre seu corpo e seu lugar no mundo, seja gênero, maternidade, sororidade, política. Com a menopausa não tem sido dissemelhante. Se essa temporada passou a receber um nome de destaque, atenção redobrada e os devidos cuidados, é porque as mulheres pautaram o tema, falando francamente sobre isso e transmitindo para outras suas descobertas. É o desvelo em ato, típico da moral feminina.
A andropausa, infelizmente, engrossa a lista dos tabus que cercam a masculinidade, levando ao empobrecimento da vida psíquica dos homens, que lhes custa tanta violência contra nós e contra eles mesmos.
O paixão é esse laço social que inventamos para manter o tranco da consciência da própria finitude. A menopausa se torna uma oportunidade preciosa para reavaliar com o que e com quem queremos gastar os momentos que nos restam, lembrando que se trata de um período cada vez mais longo e potencialmente saudável.
A assertividade, tão valorizada nos homens e tão criticada nas mulheres, encontra um apelo inédito: não temos tempo a perder.
No entanto, face à nossa crescente dificuldade em mourejar com as questões fundamentais da existência, as crises maturativas se mostram cruciais.
Poupem-me de qualquer referência às vantagens do envelhecimento. Elas até existem, mas costumam ter sabor de prêmio de consolação.
Mas vale reconhecer o que as mulheres têm criado a partir das peculiaridades de seus corpos.
Recomendo o recém-lançado podcast de Fernanda Lima, “Zen Vergonha”, das quais mergulho na questão ilumina a todas nós. De resto, só posso testemunhar que existe muita vida posteriormente a menopausa.
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